O momento político e a crise financeira que assola o país foram tema da abertura da Reunião Ampliada da FNA, que começou na manhã deste sábado (14/5) em Florianópolis (SC) com a presença de representantes da diretoria da FNA e de sindicatos de 13 estados. “Podemos afirmar que esta é a pior crise do sistema capitalista”, disse o economista José Álvaro de Lima Cardoso, supervisor do Escritório Regional de Santa Catarina do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O convidado fez uma análise do cenário desde a crise que chegou com força no Brasil em 2009 e alertou que as ações alinhadas pelo presidente interino Michel Temer trarão duro impacto à classe trabalhadora. “O projeto Ponte para o Futuro liquida com os trabalhadores. No caso de políticas sociais como o Bolsa Família, serão focadas apenas nos 5% mais pobres. Passaremos de 48 milhões de beneficiários para 10 milhões. Não há sentido em fazer política se não for para melhorar a vida do povo”.
Cardoso recordou que, desde a década de 30, o Brasil não tinha dois anos seguidos de recessão. “Em 2014 e 2015, o país não cresceu – 2016 será o terceiro ano sem crescimento”, projetou, destacando que o reflexo da crise internacional será pior no Brasil do que nos demais países emergentes. “Por um período, foi possível suportar a geração de emprego e as transferências governamentais. Mas com a crise e o ‘encurtamento do cobertor’, surgiu a necessidade de repassar o ônus ao trabalhador. No mundo todo está acontecendo este repasse. A periferia está se obrigando a se ajustar. Agora, o capitalismo brasileiro retornou ao seu modo normal”, refletiu, frisando que a construção civil é um dos setores mais atingidos pela redução do emprego.
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O debate mobilizou líderes sindicais. O presidente da FNA, Jeferson Salazar, ressaltou que o movimento popular contra estes reflexos iniciou em junho de 2013 por conta do aumento de R$ 0,20 das passagens do transporte coletivo, em Porto Alegre, e cresceu. “O movimento tomou dimensão nacional e acabou agregando pautas inimagináveis e diversas”, recordou. A partir deste momento, entra um novo componente que não é apenas a “velha mídia”. “Entra uma nova forma de organizar as informações. É uma nova engenharia de formação da opinião pública”, avalia o dirigente. Salazar conclamou lideranças a reagirem contra a criminalização das ações dos movimentos sociais, lembrou a Lei da Terceirização e o Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC).
Ao comentar sobre o novo momento político brasileiro, Cardoso aponta três eixos centrais: a redução do custo do trabalho, a redução da interferência do governo na economia e ações que ferem a cidadania. “Por trás do caos, há um golpe muito bem planejado, com envolvimento das elites”, disse o economista, destacando a participação de empresários sem compromisso com a produção. “É uma articulação muito bem feita”, acrescentou, lembrando que, geralmente, os golpes surgem quando há melhoria salarial e mudança no perfil de distribuição de renda. Entre 2002 e 2016, o salário mínimo esteve 77% acima da inflação.