Após 18 meses de obras, a Biblioteca Nacional, um dos principais cartões postais do Rio de Janeiro, voltou a exibir ao público todo o seu esplendor neste mês. Resultado de um investimento de R$ 10,7 milhões, a restauração da fachada do prédio é considerada o trabalho de recuperação mais abrangente desde a construção do imóvel, em 1910.
Erguido em estrutura metálica de cinco andares, com projeto de Francisco Marcelino de Souza Aguiar, o prédio significou um avanço tecnológico para a época. A fachada estava extremamente deteriorada e, após um minucioso levantamento de danos, foram restauradas as 285 janelas, incluindo partes em madeira e ferragens originais. Os vidros, que apresentam monogramas contendo as iniciais da biblioteca, receberam a aplicação de filtros UV, para proteger o acervo contra o excesso de luminosidade.
O projeto incluiu um estudo cromático para identificação da cor original da fachada e das esquadrias. “As antigas camadas de tinta foram retiradas e substituídas por pintura à base de pigmento mineral. Foi um grande trabalho”, explica a arquiteta Aline Lima Santos, um dos profissionais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que acompanharam a obra desde o projeto até a execução. As portas e os elementos decorativos, feitos em argamassa, também foram recuperados, assim como a cúpula externa – a ferrugem foi removida, e os elementos de cobre foram reintegrados ao conjunto.
Os trabalhos envolveram 120 operários, que participaram de visitas guiadas organizadas pela BN para entender a relevância histórica do prédio. Entre as complexidades da restauração, a arquiteta do Iphan destaca que o maior desafio foi executar as obras sem afetar o funcionamento da biblioteca, permitindo tempo para a programação dos funcionários. “A fachada foi dividida em 21 panos (segmentos), e todo o trabalho foi feito sem interrupção das atividades”, diz Aline. O esforço de recuperação do prédio também trouxe uma grata surpresa, conta a arquiteta do Iphan. Ao remover a pintura antiga, os operários descobriram que as três principais portas de acesso ao prédio, pintadas de preto, eram, na verdade, de bronze.
A restauração foi financiada por recursos do Fundo Nacional de Cultura, por meio do programa Agora, é Avançar, em uma iniciativa conduzida pelo Ministério da Cultura (MinC) com o Iphan e a própria BN. Foi a primeira de uma série de obras previstas para o prédio – a próxima intervenção será a reforma de todas as instalações elétricas da BN, orçada em R$ 4 milhões. Depois, será realizada a climatização de todo o prédio, o que deverá ocorrer ao longo dos próximos quatro anos.
Maior biblioteca da América Latina, considerada pela UNESCO uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo, A BN reúne em seu acervo cerca de dez milhões de itens. Em 2017, recebeu cerca de 100 mil visitantes e cerca de 14 mil pesquisadores. A instituição foi criada em 29 de outubro de 1810, a partir da coleção trazida por dom João VI, com a vinda da família real portuguesa para o Brasil. Entre suas relíquias, está um pergaminho datado do século XI com manuscritos em grego sobre os quatro Evangelhos e o primeiro jornal impresso do mundo, datado de 1601. Outras raridades são documentos da Guerra do Paraguai, conjunto de cartas enviadas pelos três irmãos Andrada (José Bonifácio, Martim Francisco e Antônio Carlos) e primeira edição de Os Lusíadas, de 1572.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil Rio de Janeiro