Texto: Patrícia Feiten
Com a proposta de oferecer capacitação profissional para prestação de assistência técnica a comunidades carentes, a Universidade Federal da Bahia (FBA) lançou em 2013 um Programa de Residência em Arquitetura, Urbanismo e Engenharia. Inspirada na modalidade de pós-graduação consolidada nos cursos de medicina, a iniciativa pioneira está na terceira edição, tendo capacitado 73 profissionais que repassaram projetos a 24 comunidades na Região Metropolitana de Salvador e cidades das universidades nucleadas – Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e Universidade Federal do Ceará (UFCE).
A residência é realizada por meio do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU-UFBA) e do LabHabitar, em parceria com a Escola Politécnica da Residência em Arquitetura, Urbanismo e Engenharia. Para a coordenadora do programa, Ângela Gordilho, a iniciativa envolve muito mais do que teoria e prática em um curso de especialização. “Somos ensino, pesquisa e extensão. A extensão é o serviço prestado de interesse social. É o que a habitação vem buscando fazer desde as discussões da reforma urbana, com a questão do sistema nacional de habitação de interesse social, implantado pelo Ministério das Cidades”, diz Ângela.
O programa de residência tem duração de 14 a 16 meses – no mínimo quatro meses de aulas, oito meses de assistência técnica (período no qual o profissional trabalha diretamente com as comunidades beneficiadas) e dois meses para a elaboração do projeto final. Esse projeto, destinado à comunidade, inclui as dimensões e especificações preliminares necessárias para atender a editais e Termo de Referência, sob a responsabilidade técnica do profissional-especialista. “Com o termo de referência, uma prefeitura pode levantar recursos e, com eles, inclusive contratando os autores do projeto, pode desenvolver projetos executivos. O universo de serviço social que temos é imenso”, avalia a coordenadora do programa.
Para Ângela, ao colocar em prática a Lei de Assistência Técnica, a residência profissional amplia o campo de trabalho dos recém-formados. A docente cita dados de uma pesquisa publicada pelo CAU/BR e pelo Instituto Datafolha em 2016, que traçou um diagnóstico do setor no Brasil. De acordo com estudo, a parcela de pessoas da população economicamente ativa que já haviam contratado os serviços de arquitetos e urbanistas era de 7%. “Então, estamos muito defasados no nosso potencial de trabalho, enquanto as cidades estão precisando tanto de arquitetos, sobretudo nas periferias, onde pode se pode fazer certos serviços, não apenas melhoria na unidade habitacional, mas melhoria de espaços públicos. É isso o que temos feito em nossos projetos da residência da UFBA”, diz Ângela.
O principal desafio para o fortalecimento da residência profissional, segundo a docente, está no custeio de bolsas de pós-graduação para os residentes, além de verbas de auxílio-viagem para tutores e convidados externos, o que possibilitaria estender cooperação a municípios menores. Com a implantação do modelo em outras universidades brasileiras, também abre-se o caminho para a criação de uma rede nacional de assistência técnica, ampliando sua atuação por meio de intercâmbios acadêmicos, diz Ângela.
Segundo a docente, das vagas oferecidas no curso, cinco são reservadas a estudantes de outras instituições de ensino. “Então, os alunos tiveram curso de quatro meses conosco e voltaram para as suas universidades e comunidades, para fazer o trabalho lá. Isso reuniu uma gama grande de professores nucleados”, explica Ângela. Hoje, o programa de residência da UFBA conta com 55 professores credenciados, incluindo os nucleados. “O desdobramento disso é a capacitação de jovens professores, para trabalharem com a cidade real, que não necessariamente represente mercado, mas que é um grande campo de trabalho”, afirma a coordenadora.
Fotos
Destaque: Kwanchai Khammuean
Acima: Joa Souza/iStock