Camila Silva/Imprensa FNA
As metrópoles proporcionam aos moradores um desconforto acústico muito grande. Além disso, o excesso de sons desagradáveis e indesejáveis pode acarretar graves problemas de saúde. Por esse motivo, escritórios de arquitetura têm se dedicado exclusivamente a atender demandas de edifícios residenciais, de casas, de auditórios, de hospitais e de restaurantes para ampliar o conforto de moradores e clientes.
O escritório Síntese Acústica Arquitetônica, de Brasília (DF) é especialista em projetos acústicos. Formada pelos arquitetos e urbanistas Cândida Maciel, Fabiana Curado e Vinícius Pugsley, a empresa tem 90% dos projetos voltados para edificações residenciais e 10% para auditórios. No entanto, conforme uma das sócias Cândida Maciel, no último ano, cresceu a procura de melhor desempenho acústico por restaurantes. “Um dos nossos clientes disse que investir em um projeto acústico representava aumentar o seu lucro, já que as pessoas tendem a ficar mais tempo em um ambiente com uma qualidade sonora superior”, afirma.
Auditório Íon (DF) Foto: Edgard César
As construções na empresa têm como base a Norma de Desempenho de Edificações NBR 15.575, de 2013. De acordo a arquiteta, isso não significa que as construções mais antigas não possam alcançar um bom desempenho acústico. “Para atenuar os ruídos entre cômodos, por exemplo, é possível aumentar a espessura entre as paredes, ampliando, assim, a distância entre as unidades. Os ruídos aéreos como sons de veículos, aviões, som alto, podem ter o seu efeito reduzido com a instalação de esquadrias com material vedante”, explica Cândida. A arquiteta cita que a procura por projetos acústicos na construção civil está aumentando porque o público está mais exigente e pensa cada vez mais em qualidade de vida.
O escritório Passeri Acústica e Arquitetura, de São Paulo (SP) começou a trabalhar neste nicho de mercado há 21 anos, quando recebeu o desafio de projetar as salas de música do Sesc Vila Mariana, na capital paulista. Atualmente, a empresa foca em desenvolvimento de projetos, consultoria e cursos na área de desempenho acústico. No portfólio, constam acústicas de edificações de peso, como o auditório Simón Bolivar no Memorial da America Latina, projetado pelo arquiteto e urbanista Oscar Niemayer, o Hospital Sírio Libanês e o Sistema Sesc.
Sala Simón Bolivar no Memorial da America Latina Foto: Marcelo Justo/Folhapress
Tema ainda precisa amadurecer nas faculdades
Para o arquiteto Eliseu Passari Júnior, existe uma tendência de as universidades diminuírem a carga horária relacionada ao assunto. “Quando graduei, estudávamos conforto acústico um semestre inteiro, 60 horas/aula. Hoje, algumas universidades dividem estas horas em conforto técnico, acústico e luminotécnico”, exemplifica. Para a arquitetura e urbanista e coordenadora do curso de mestrado profissional em Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), de São Leopoldo (RS), Maria Fernanda de Oliveira, a produção de projetos acadêmicos sobre acústica é visto como algo complementar. “O arquiteto precisa entender que isso é uma responsabilidade dele” destaca.
A conclusão da docente foi proferida após a realização do XXVIII Encontro da Sociedade Brasileira de Acústica (SOBRAC), realizado de 3 a 5 de outubro no campus da universidade em Porto Alegre. No evento, foi realizado o primeiro concurso estudantil de acústica Conrado Silva, que desafiou estudantes dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Acústica, Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica e Física a construir um projeto acústico para uma sala pública multiuso. Ao todo, 12 trabalhos foram enviados e concorreram em duas categorias: Digital e Analógica.
Os projetos foram avaliados por um júri internacional composto pelo pelos professores Jorge Patrício (Portugal) Flávio Maya Simões (Brasil) e pelo alemão Michael Vorlãnder. A Universidade Federal do Ceará (UFC) foi a vencedora na categoria Digital, representada pelos estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Daniel Máximo, Melisa Freire e Jéssica Maria, coordenados pelo professor Renan Cid Varela Leite. Na categoria Analógica, a equipe vencedora é formada pelos alunos Carlos Vieira, Israel dos Santos, Ana Paulo de Oliveira e Thomas de Almeida, todos da União Metropolitana de Educação e Cultura da Bahia (UNIME) e Unidade de Ensino Superior em Feira de Santana (UNEF), também da Bahia. “Ainda há alguns pontos que não estão claros, sobretudo o que é o condicionamento acústico” frisou Maria Fernanda. No entanto, a coordenadora diz que, somente desta forma, através desta interação, será possível entender quais são as necessidades dos estudantes e o que é preciso fazer para fomentar o assunto entre os futuros profissionais da área.
Foto: Marcelo Justo / Folhapress