A história recente do Brasil e a conjuntura política atual foram o pano de fundo para a análise do historiador Fernando Horta apresentada aos arquitetos e urbanistas reunidos neste sábado (24/11), no 42º Encontro Nacional de Sindicato de Arquitetos e Urbanistas, em Brasília. Segundo ele, somente a força dos movimentos sociais e sindicais é capaz de conter o avanço do fascismo e suas práticas contra os direitos sociais e as políticas públicas. O fascismo se impõem de forma gradual, primeiro com a invisibilidade dos movimentos e lutas sociais, depois com a tomada dos meios de Estado e dos meios de comunicação, com a deslegitimação da via política. “As pessoas estão com medo de participar dos movimentos, de estarem expostas. É preciso que a gente volte a usar nossos símbolos, nossas bandeiras, atuarmos em rede e compartilharmos o que é importante para o processo de resgate da solidariedade e do coletivo”.
Os cidadãos serão inseridos num sistema de retirada gradual de direitos, recebendo menos pelo seu trabalho e sendo submetidos a precarização das relações de trabalho, afim de gerar mais lucro para o capital e o Estado. “Uma das características do fascismo é a construção ideológica em torno do empoderamento individual, com criminalização da política e uso da violência extrema legitimada pelo Estado”.
Fernando Horta destacou que não apenas as “fake news”, mas especialmente a forma de utilizar as redes para falar diretamente ao seu eleitorado, sem participar de debates ou ter plano de governo, foram recorrentes nestas últimas eleições majoritárias no Brasil. Para fazer frente a este cenário, “teremos que rever o uso das redes sociais, com produção de conteúdo relacionado às questões sociais, do pensamento, da cultura, e ir para rua quando os movimentos e direitos sociais forem atacados”.
O coordenador do sindicato Arquitetos DF, Danilo Matoso, abordou a falta de engajamento político, algumas vezes dentro das próprias entidades sindicais, e a preocupação com as consequências disso. “Nesse processo mais recente, houve erros sucessivos de forças da esquerda e uma relutância em lutar contra o golpe. A luta política se dá pela materialidade. As propostas apenas no campo das idéias não resolve. Eu sempre fico preocupado com a disputa de opiniões, pois acho que só isso não vai combater o fascismo”, cita. Para enfrentar o quadro atual, Matoso coloca a necessidade da mobilização nas ruas e organização de ações.
A ex-presidente da Federação Nacional dos Arquitetos (FNA), Valeska Peres Pinto, no entanto, acredita que chamar para o sacrifício a população desmobilizada e pessimista não vai resolver a questão. “Precisamos entender como usar as redes ao nosso favor, como jogar nas novas condições que se apresentam”. Para a vice-presidente da FNA, Eleonora Mascia, “há um movimento pela formação de base e fortalecimento das organizações de luta, considerando as transformações e novos desafios do mundo contemporâneo”.