A distância entre arquitetura e arte se estreita na galeria ArquiBrasilia. Além de aproximar mais os dois mundos, o espaço multimídia inaugurado em fevereiro na CLN 111 (Asa Norte) tem intenção de oferecer visibilidade a novos artistas da cidade. No mês das mulheres, está habitado por aquarelas da artista plástica angolana Francisca Meireles.
Funciona dentro do escritório de quatro arquitetos: Angelina Quaglia, Biophillick, Frederico Frazão e Márcio Vianna. Eles revezam a curadoria das exposições e recebem aulas, palestras e conferências.
Para o artista, produtor musical, arquiteto e fotógrafo mexicano Jhavier Loeza, mais conhecido por Biophilick, 30 anos, o diferencial do “próximo novo ponto de encontro da cidade” é não se fechar exclusivamente para arquitetos e receber tambem artistas. Ele explica que essa “cena já é forte no México”.
“Nosso principal objetivo é fazer daqui um espaço cultural, onde a arte arquitetônica pode abraçar outras artes e novos talentos”, comenta Biophilick, que vive em Brasília há menos de três anos e também já expôs na cidade.
Ele explica que a exposição atual, Aquarelas, além de trazer a relação do corpo e natureza com arquitetura, retrata a habitação dos espaços.
Presença
“Aqui está uma população de mulheres com cabelos crespos em aquarela”, explica a artista plástica e jornalista Francisca Meireles. Ela nasceu em Angola e viveu a infância em Portugal, até voltar ao país africano na juventude. No Brasil, onde está há 10 anos, vê poucas mulheres negras nos espaços que frequentava, nem mesmo quando morava em Salvador — cidade com maior número de pessoas negras fora da África, como mostrou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último censo, em 2010.
Nas ilustrações de Francisca, não faltam mulheres negras. “Por ver pouca representação da mulher negra, me inclino mais para isso. Elas estão em 90% dos trabalhos que faço. Muitas pessoas perguntam se são autorretratos, já que elas muitas vezes são parecidas comigo, mas não são autorretratos”, explica a artista, que não vê semelhantes em “cinemas, teatros ou restaurantes”. “É chocante”.
“Nas pinturas em museus, as mulheres também são brancas, de cabelo liso e loiro. Acho lindo. Mas sinto falta de ver a negra do cabelo crespo, afro”, lamenta.
As mulheres que habitam os quadros de Francisca ganharam contorno em aquarela há pouco mais dois anos. Ilustrar faz parte da vida da jornalista formada em relações internacionais desde antes de qualquer outro ofício.
“Pintar sempre esteve ao lado. Pintei pela vida toda, desde que me conheço, quando pequenina. Fui autodidata até pouco tempo, mas comecei a estudar técnicas. De dois anos para cá, tenho tido mais interesse por aquarela. Mas já explorei carvão, nanquim, acrílico, óleo. Até com café já pintei”, diz e sorri.
Fonte: Correio Braziliense