O debate sobre as transformações por que passam os cursos de  Arquitetura e Urbanismo no país transcende o debate sobre a adoção ou não de currículos de Educação a Distância (EAD). Apesar das críticas feitas às instituições de ensino que fomentam as aulas não presenciais, o cerne dessa discussão está em limitar o espaço para o debate e para interação, o que dificulta a formação social e política dos estudantes. Durante participação no painel EAD X Ensino Presencial, realizado nesta quinta-feira (10/11) no 21º Congresso Brasileiro de Arquitetos (21º CBA), a estudante e diretora executiva de relações externas de Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo (Fenea), Ananda Henklain, propôs a discussão sobre o perfil desses novos estudantes que, talvez, possam estra abertos a um novo modelo de ensino. Contudo, alertou, é preciso reflexão sobre os impactos de longo prazo das decisões do hoje. “Defender o ensino de Arquitetura e urbanismo é defender a profissão”, conclamou.

Segundo ela, os atuais estudantes são de difícil mobilização e cada vez reportam menor identidade com o movimento estudantil ou com a federação dos estudantes. “Isso é reflexo do sistema estabelecido, onde temos um modelo de educação heterônoma, ou seja, oposta à autonomia onde não somos protagonista da educação”. E salientou que o movimento do EAD chega com bases em questões que são totalmente conflitantes com o modelo estabelecido de uma educação antidialógica, com visão de educação hierarquizada onde o professor é detentor do conhecimento.

Agora, citou a estudante, a chamada Heutagogia propõe maior interação dos aprendizes tanto com a definição do conteúdo a ser trabalhado quanto em relação ao método, um modelo disruptivo e diferente de tudo o que fizemos até agora. Contudo, a dirigente da Fenea alertou que é a interação pessoal que propiciada se estabeleçam relações. “Tirar espaço de conversa é pernicioso para o movimento estudantil porque a graduação é um período de sensibilização e de vivências onde se desenvolve essas habilidades. O que vivemos hoje é a política do desmonte”.

A EAD, diz ela, permite menos espaço para o desenvolvimento da criticidade, algo essencial a ser trabalhado durante a graduação aos olhos da Fenea. A posição foi reforçada na fala do diretor da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (Abea), Gogliardo Vieira Maragno, que mencionou o fato de o fomento ao ensino não presencial está atrelado exatamente à instituições de menor expressão e maior interesse econômico. “As universidades públicas não falam em EAD”, lembrou, conclamando colegas, entidades, poder público e sociedade e unirem-se contra a manutenção do ensino a distância em arquitetura. A mesa foi mediada pelo diretor de Comunicação e Formação da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanista (FNA), Ormy Hütner Júnior, que pontuou sobre a falta de preparo dos estudantes em relação a conhecimentos básicos.

Em nome da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), o assessor jurídico Bruno Coimbra ponderou que não há uma instituição com currículo 100% EAD em atuação. A entidade, explicou ele, defende o fim da distinção entre cursos presenciais e a EAD de forma que o ensino seja avaliado pela qualidade e não pela forma como é ministrado. “Precisamos de portas abertas para debater sobre a qualidade na educação para que não se tenha só uma preconcepção de que se é EAD não nos serve”, criticou, lembrando que a mera proibição pressupõe a ausência de debate sobre o tema.

A arquiteta e urbanista e representando do IAB Maria Elisa Baptista, reforçou o coro pelo curso presencial ao defender que “é na presença do corpo que a democracia se realiza. A convivência entre professor e aluno e aluno com aluno faz toda a diferença”. Segundo ela, educar arquitetos e urbanistas exige presença de forma a que se compreenda os espaços. E previu que os profissionais formados por EAD serão exatamente aqueles com menos condições para uma formação completa. Saber arquitetura e urbanismo é uma coisa, utilizar tecnologia é apenas um instrumento complementar.

 

Foto: Carolina Jardine