Na última sexta-feira, 8 de novembro, depois de 580 dias preso em virtude de um processo jurídico controvertido, e após o Supremo Tribunal Federal finalmente fazer valer o que está escrito na Constituição de 1988, o presidente Luís Inácio Lula da Silva finalmente reencontrou a liberdade. Ao longo dos últimos dezenove meses, foi intensa a mobilização dos movimentos sociais e das representações dos trabalhadores unidos em torno da campanha “Lula Livre”. A campanha, que ganhou repercussão mundial, mostrou que Lula foi condenado por um processo sem isenção ou justiça, coordenado por procuradores e juiz em conluio, com revelados atos que levam à suspeição da acusação e julgamento. Nas eleições de 2014, a política de conciliação implantada em três mandatos sucessivos se desfez e a tentativa de implantar uma agenda econômica liberal apenas acelerou o caminho para o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. Com apoio da mídia dominada pelos grandes grupos econômicos, um amplo espectro político-ideológico se beneficiou do golpe, anulando as possibilidades de reação eleitoral da esquerda ainda em 2016 e pavimentando o caminho para o surgimento de um histriônico candidato, que personificou o viés fascista de uma campanha sem debate. Após um processo eleitoral questionável, o eleito e empossado nomeou para o Ministério da Justiça o juiz que condenou o principal candidato à presidente em 2018, o presidente Lula. Este é ou não um processo claramente direcionado?

No dia seguinte às estrondosas manifestações de apoio à Lula, em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, chegam da Bolívia as notícias de golpe e deposição do presidente eleito Evo Morales. Neste momento, lideranças indígenas e populares organizam a resistência ao golpe, mas já é possível antever as dificuldades enfrentadas, uma vez que Estados Unidos e Brasil sinalizam apoiar os partidários da extrema-direita, assim como fizeram NASA sucessivas tentativas de golpe na Venezuela. Antes disso, há quase um mês, os chilenos se colocam nas ruas contra a política neo-liberal de Sebastian Piñera, que responde com endurecimento econômico e um exército que tortura e mata os que defendem a democracia.

Neste contexto latino-americano, em que, além do Brasil, outros países do sul como Equador, Venezuela, Peru, Chile e Argentina enfrentam ataques aos direitos sociais, é preciso que a classe trabalhadora possa estar organizada. A legislação de proteção dos trabalhadores e seus sindicatos vêm sofrendo ataques e tentativas de desregulamentação. A reforma trabalhista, que completa dois anos agora em novembro, e estranhas propostas de emendas à constituição são meios para enfraquecer os sindicatos e a luta por condições de trabalho decente e acesso às políticas públicas. Teremos um longo caminho pela frente, mas precisamos estar unidos aos movimentos sociais para restabelecer as condições políticas para a democracia no Brasil e na América Latina.