Para dar voz às arquitetas e urbanistas e a todas as mulheres que buscam por qualidade de vida e inclusão nas cidades, a Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) lança, neste Dia Internacional da Mulher (8 de março), o projeto Cidades para Elas. Trata-se de uma série de reportagens que conta as histórias de personagens importantes que contribuem com o cenário de valorização da mulher de Sul a Norte do país. Os textos, que serão lançados durante o mês, ainda trazem sugestões para os executivos municipal, estadual e federal de forma a tornar os espaços públicos mais seguros e adaptados aos dilemas vividos pela sociedade, mas, geralmente, explicitados no dia a dia de mulheres, crianças idosos e das minorias. “A luta por cidades para todos é uma batalha diária, algo que não se conquista de uma hora para outra, mas que a sociedade pode transformar para as novas gerações. A luta é todo o dia e em todo o lugar”, pontuou a presidente da FNA, Eleonora Mascia, segunda mulher a ocupar a presidência da entidade em 40 anos de atuação sindical.
Para lançar luz sobre as dificuldades vividas pelas mulheres nas cidades brasileiras, vamos aos números. Segundo o levantamento do Atlas da Violência publicado em 2017, a cada ano, 4.936 mulheres são mortas no país vítimas de homicídio. Para facilitar a reflexão de forma comparativa, cerca de um quarto das cidades brasileiras tem até 5 mil habitantes, o que significa dizer um pequeno município brasileiro é dizimado todos os anos.
Porém, a preocupação com esse panorama não é realidade na mesa da maioria dos gestores públicos. Mesmo com o aumento gradativo das mortes ao longo dos anos e o fortalecimento do movimento feminista, parte da população brasileira ainda parece inerte ou insistente em minimizar o valor daqueles que lutam pela causa. E essa tendência, infelizmente, é um reflexo do abandono ao tema por parte do próprio poder público. Exemplo disso é o que mostra o último relatório de gastos do principal programa de combate à violência contra a mulher, o Casa da Mulher Brasileira, criado em 2015 pela então presidente Dilma Rousseff. Em 2019, o governo federal não investiu recursos públicos na iniciativa que previne e protege mulheres de agressões.
O descaso com as cidadãs brasileiras está aparente nas cidades. Iluminação precária, transporte público caro, creches e escolas sem vagas, segurança deficitária, saúde superlotada. Esses são alguns dos fatores que contribuem para que a vida das mulheres e de toda a sociedade seja afetada diariamente. Afinal, se uma mulher não tem espaços seguros para deixar os filhos enquanto trabalha ou se a sua moradia é tão distante do local de trabalho, o que lhe exige um turno inteiro de deslocamento, então, o sistema é falho e danoso a ela e a toda a sua família.
Nesse contexto, a FNA entende que os profissionais de arquitetura e urbanismo devem ser atuantes neste debate. São eles, afinal, que têm conhecimento técnico para otimizar as cidades e melhorar a vida da população e, sobretudo, das mulheres. Essa contribuição pode ser quando focam sua ação na Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (Athis), que proporciona que famílias de baixa renda consigam viver em uma moradia digna e segura. Que sejam os arquitetos e urbanistas agentes de inclusão social e democracia por meio do pensar a cidades, do debate de novas opções urbanísticas e de alternativas criativas que façam dos espaços públicos um local de vida e não de morte. Sabemos que a situação política não é favorável e que as políticas públicas voltadas aos movimentos sociais foram estancadas. Mas agora é a hora. Somos agentes das cidades, não podemos calar. A profissão pode e deve lutar para que essa realidade seja transformada. As mulheres brasileiras precisam, a sociedade merece.