Quando tinha apenas 16 anos e frequentava o ensino médio, a jovem Daniela Carneiro dos Santos venceu um concurso de redação realizado em Porto Velho (RO). Escrevendo sobre a assistência hospitalar a idosos, ela foi selecionada para representar o Estado na agenda do Parlamento Jovem Brasileiro, projeto que transforma estudantes em deputados federais por uma semana. Foi lá que ela, no meio de um grupo majoritariamente de meninos, descobriu que era preciso fazer política para não se deixar ser governado por quem faz.
Formada em Arquitetura e Urbanismo pelas Faculdades Integradas Aparício Carvalho (FIMCA) em 2016, Daniela tem apenas 31 anos e planeja candidatar-se às eleições para a vereança em 2024. Na base de seus projetos está a valorização da cidade e busca por espaço para as mulheres tornarem-se agentes do desenvolvimento urbano. Uma batalha que promete ser árdua em tempos de políticas mais conservadoras em curso. “As mulheres seguem com jornadas árduas, acumulando o trabalho, o serviço de casa e com os filhos, muitas vezes negligenciando a própria saúde por isso. Precisamos que a sociedade e, em especial, os homens, valorizem esse papel e abram espaço para elas nos governos, nas secretarias”.
Atuante em movimentos feministas com passagem pelo coletivo Mina Livre, ela é conselheira estadual do CAU/RO, fiscal de obras do Estado e profissional atuante junto ao Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas de Rondônia (Sindarq-RO). Um espaço de luta que, segundo ela, precisa se abrir à mulher, mas que também cabe a ela mesma conquistar. Atualmente, conta, de uma equipe de oito pessoas no departamento do Governo do Estado, são três mulheres e cinco homens. Mas nem sempre foi assim. “Antes eram todos homens. As mulheres estão presentes, mas não ocupam tantos cargos de coordenação e direção”. Hoje em dia, a arquiteta participa de grupos como o GEFEM, que realiza eventos, feiras e debates sobre a relevância do papel da mulher na sociedade brasileira e ao colegiado existente dentro do CAU/RO para tratar do tema.
As batalhas na região Norte, cita ela, assemelham-se às do resto do Brasil, por espaço, respeito e voz. “Queremos equidade de gênero, com participação maior da mulher na arquitetura, no próprio conselho e no planejamento e construção das cidades”, pontua. E foi com base nessa bandeira, a renovação, que elegeu sua chapa ao CAU/RO.
O que elas querem das cidades
– Medidas que deem mais visibilidade para mulheres, que concedam posição de coordenação de projetos e cargos estratégicos. Muitas pastas que dizem respeito às causas femininas ainda são ocupadas por homens.
– Capacitações técnicas como cursos nas regiões mais periféricas, dando oportunidade para as mulheres mais pobres, negras e etc.
– Instituição de equipes de Guarda Feminina para atuar em proteção e acolhimento das mulheres. Apesar de existirem Delegacias da Mulher, é essencial que haja equipes de atendimento 24 horas por dia.
– Mais creches em tempo integral para as mães terem tranquilidade para trabalhar
– Campanhas de publicidade e conscientização sobre os ataques sofridos diariamente pelas mulheres com o objetivo de revisar a posição da sociedade.