Mais do que nunca o futuro de nossas cidades constitui hoje uma das principais preocupações de boa parte dos brasileiros. A epidemia do Covid-19 escancarou as deficiências estruturais, sociais e ambientais dos centros urbanos, exigindo respostas novas e urgentes. Um desafio enorme para os atuais e os próximos gestores a serem escolhidos nas eleições do final do ano. Com o objetivo de discutir esses desafios e colher subsídios para a elaboração de “Carta aos Candidatos nas Eleições Municipais de 2020”, o CAU/BR e seis entidades representativas dos profissionais e estudantes de Arquitetura e Urbanismo promoverão no mês de julho um ciclo de seis “lives” denominado “Novas Cidades 2021”. As entidades são o IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), a FNA (Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas), a ABEA (Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo), a AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura), a ABAP (Associação Brasileira de Arquitetos Paisagístas) e a FeNEA (Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo), componentes do CEAU (Colegiado das Entidades Nacionais de Arquitetos e Urbanistas). A iniciativa conta com o apoio do UOL, maior portal da internet brasileira.
Os debates online serão realizados nos dias 9, 14, 16, 21 e 23 de julho, sempre a partir das 18h30. Na última “live”, dia 28, ocorrerá um balanço para a sintetização dos resultados e formulação dos encaminhamentos. A jornalista Cristina Serra fará as mediações. A transmissão ocorrerá pelas plataformas digitais do CAU/BR, das demais entidades e pelo portal UOL.
Cristina Serra: Jornalista e escritora brasileira. Trabalhou durante 26 anos na Rede Globo, foi correspondente da emissora em Nova Iorque e comentarista do canal do YouTube MyNews. Atualmente, integra a equipe do site Metrópole. Em 2018 recebeu o Prêmio Sistema FIEPA de Jornalismo – troféu Personalidades da Comunicação. É autora do livro “Tragédia em Mariana: a história do maior desastre ambiental do Brasil”.
Serão discutidos os seguintes temas: “Arquitetura e Saúde” (o papel dos arquitetos e urbanistas como promotores da saúde pública nas cidades); “Cidades Sustentáveis” (Urbanismo e meio ambiente: como reinventar as cidades no pós-pandemia?); “Governança e Financiamento” (Cidades não se fazem de improviso. Como torná-las menos desiguais?); “Paisagem e Patrimônio” (Qualidade de vida nas cidades: paisagens e história); e “Mobilidade e Inclusão” (Circulando pela cidade: novas dimensões da mobilidade urbana).
As “lives” do “Novas Cidades 2021” deverão ser direcionadas de tal forma a encaminhar propostas concretas aos candidatos aos poderes Executivo e Legislativo municipais, tendo caráter mais propositivo do que de diagnóstico. Os temas serão abordados com transversalidade por quatro debatedores, sendo um arquiteto e urbanista, um especialista no tema específico da “live”, um representante comunitário e um debatedor com viés político.
Alguns dos convidados são Gilson Rodrigues, líder comunitário da favela Paraisópolis (SP); o arquiteto José Júlio Ferreira Lima, da Universidade Federal do Pará; o arquiteto Fernando de Melo Franco, ex-secretário de Desenvolvimento Urbano de São Paulo; a arquiteta Luciana Saboia, da UnB; Paula Bisau, assessora do governo de Buenos Aires; Carmen Silva Ferreira , líder do Movimento Sem Teto do Centro de São Paulo; Henrique Silveira, geógrafo e Coordenador Executivo da Associação Casa Fluminense no Rio de Janeiro/RJ; e os deputados Carmen Zanotto, Angela Amin, Edmilson Rodrigues, Joaquim Passarinho, além do ex-prefeito de Curitiba Gustavo Fruet.
Desde a sua criação, o CAU/BR tem estabelecido um constante diálogo com as demais esferas do poder público para o fortalecimento de ações de promoção do aperfeiçoamento da Arquitetura e do Urbanismo. Por ocasião das eleições de 2018, o Conselho apresentou aos candidatos nas eleições federais, junto com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), um manifesto intitulado “As cidades pedem socorro”, cujo objetivo era levar para a pauta das eleições um projeto nacional baseado na territorialização das políticas públicas.
É consenso entre as entidades do CEAU que estamos passando por um momento histórico que mostra o nosso despreparo para perpassar por situações de instabilidade e calamidade. Como toda grande crise, a pandemia veio acompanhada de uma oportunidade de crescimento. Não podemos mais pautar nossas políticas públicas com base em cenários de estabilidade. Nunca ficou tão claro que a qualidade dos espaços de vivência e convivência não é um luxo, e sim uma medida preventiva de saúde pública. Mais do que nunca ecoa forte o pedido de socorro de nossas cidades , e as transformações espaciais e sociais pós-pandemia deverão ensejar um pacto pela retomada do planejamento urbano dentro dos 5565 municípios brasileiros.
Para Luciano Guimarães, presidente do CAU/BR, “a participação na vida pública neste momento constitui uma empreitada de suma importância e um desafio sem precedentes. Cientes da importância de futuros prefeitos e vereadores na liderança da reestruturação das cidades para essa nova era, é nosso dever contribuir com alguns apontamentos e orientações técnicas que possam enriquecer essa jornada”. Na visão dele, “o ciclo e a elaboração conjunta da “Carta aos Candidatos nas Eleições Municipais” pelas instituições de Arquitetura e Urbanismo são uma iniciativa inovadora que, além de demonstrar a maturidade do setor, amplia a importância do documento e do impacto esperado junto à classe política e à sociedade. Temos expectativa de que metodologia adotada, reunindo pessoas de diversas áreas de conhecimento ou atuação, garanta a construção de uma Carta com visão não apenas técnica, mas socialmente plural e politicamente consistente.”
Para Cláudia Pires, coordenadora da Comissão de Política Urbana do IAB, “frente às eleições que se aproximam, é de suma importância que as entidades do CEAU, que compõem a Plenária do CAU, se posicionem, manifestando sua preocupação com o necessário retorno do desenvolvimento social, ambiental e urbano ao centro da agenda pública. enfatizamos o caráter municipalista da gestão urbana, cujos os investimentos devem ser buscados nas três instâncias federativas. O país passa por um período de retração de investimentos públicos e iniciativas de privatização de serviços essenciais, isso em um momento onde o desafio para a promoção da saúde e da qualidade de vida da população demanda grandes recursos para habitação, saneamento, transporte e mobilidade, segurança, meio ambiente, políticas de cultura e patrimônio cultural e regulação urbana. A PEC 95, do teto de gastos públicos, limitou os investimentos do estado em uma estratégia equivocada, que prioriza um suposto equilíbrio fiscal em detrimento da promoção da redistribuição de renda e da destinação de recursos para políticas prioritárias para o bem estar social, às quais, aparentemente, foram consideradas como dispensáveis ao desenvolvimento da nação. Acreditamos e defendemos que o estado eficiente é aquele que investe na redução das desigualdades sociais e espaciais, no acesso universal aos serviços urbanos e na justa distribuição de suas riquezas para toda a população”. (Foto Juliana Rocha)
Eleonora Mascia, presidente da FNA, afirma que a Federação, “como entidade integrante do CEAU, está disposta a apoiar a construção de um pacto pela qualidade de vida nas cidades, o que vai ensejar a retomada do planejamento e das instâncias de participação para a implantação de políticas públicas. Devemos estar mobilizados para que a arquitetura e o urbanismo sejam integrados ao esforço coletivo de melhorar nossas cidades, com inclusão e respeito pela diversidade”.
Na opinião de Gianfranco Vannucchi, presidente da AsBEA, “os cinco temas a serem debatidos são fundamentais para pensarmos e repensarmos nossas cidades. Se fazem mais do que urgentes ações objetivas no sentido da melhoria, para todos, do ambiente construído e da sua paisagem. É imprescindível que os futuros candidatos nas próximas eleições, incorporem essas questões aos seus programas de governo”.
Segundo Carlos Eduardo Nunes Ferreira, vice-presidente da ABEA, “por ser a entidade nacional que trata especificamente do ensino de Arquitetura e Urbanismo no país, nos dedicamos integralmente à promoção incondicional da qualidade da formação dos futuros arquitetos e urbanistas. Por isso, queremos debater com as demais entidades profissionais que cidade queremos. E, a partir dos consensos resultantes, apresentarmos, aos candidatos, uma visão de cidade que, certamente, deverá ser bem mais inclusiva do que aquela revelada nestes tristes tempos de pandemia”.
Segundo Luciana Schenk, presidente da ABAP, “a iniciativa do CEAU BR é uma ação pragmática. O diálogo põe em relevo questões prementes para o futuro das cidades e suas regiões e nos auxiliam de dois modos. Um deles é gerar conteúdos pertinentes à agenda da Arquitetura e Urbanismo brasileiros. Outro, de fundamental importância, é ampliar nossa visibilidade frente à sociedade, numa ação exemplar que se constrói justamente pela troca.”
A estudante Francieli Franceschini Schallenberger, da Direção Geral da FeNEA, afirma que “a preocupação em como se dará o amanhã das nossas cidades, nos coloca integrados enquanto entidades em busca de meios para levar a toda a sociedade a importância de pensarmos em soluções para esses assuntos no momento atual. A construção em conjunto de uma Carta aos Candidatos com debates e espaço para uma ampla colaboração, contempla não somente a necessidade em sinalizar as urgências, mas também o reconhecimento de que as vozes quando unidas, ecoam mais alto em direção à certeza de que esses pontos serão considerados e levados a diante. O pensar a cidade é pensar o todo, e é um exercício para todo mundo”.
A estruturação da programação do ciclo de debates “Novas Cidades 2021” contou, dentro do CAU/BR, com o apoio das Comissões de Política Urbana e Ambiental (CPUA) e de Política Profissional (CPP).
Informações: CAU/BR