Ainda jovem, aos 18 anos, Neila Gomes dos Santos iniciou seu engajamento pelas causas sociais quando atuava na Pastoral da Juventude de sua cidade. Mas foi na Faculdade de Serviço Social, em 2005, que sua visão compromissada com o próximo se ampliou. Como ela mesma diz, foi ali que efetivamente começou sua militância.
Moradora de área de risco em Manaus, sempre teve a necessidade de debater sobre a questão da habitação social, especialmente sobre os Igarapés de Manaus. Fez TCC sobre o direito à moradia, mais acabou abordando muito mais o movimento popular. No curso, se apropriou da política das cidades, cresceu seu envolvimento, o que acabou a levando para a liderança do MLNM em Manaus, movimento que ela mesma ajudou a levar para a sua cidade, em 2010.
Um ano antes, em 2009, montava grupos de famílias para ir em busca de suas demandas. Na comunidade de São Sebastião, no bairro Petrópolis, se uniu à associação de moradores, integrou mais tarde a diretoria e colocou-se à disposição das famílias para iniciar efetivamente a luta, que culminou na junção de outras comunidades que deram início ao MNLM de Manaus.
Uma das muitas conquistas a partir dali foi a liberação de uma área da União para a construção de 600 habitações de interesse social graças a uma primeira ocupação de prédio público realizada pouco antes. “Foi a ocupação que favoreceu a construção em uma área pelo Minha Casa, Minha Vida. Outra luta importante que ainda permanece é o das famílias da área chamada Igarapé da Cachoeira Grande, moradores de palafitas em área caudalosa. “Nossa reivindicação era pela manutenção das famílias no local, mas com infraestrutura e moradia digna pois não queremos nunca perder nossas origens”, afirma. Um incêndio acabou por derrubar as palafitas, e foi quando o movimento para as ruas pressionar pelo aluguel social e pelo seu efetivo pagamento’, conta. Hoje, das 510 famílias, apenas 20 – entre as que estavam na área incendida – não foram contempladas. Segundo Neila, a luta continua para que ocorram as construções na Cachoeira Grande, mas há muita contenção de recursos por parte do governo e na cedência de contrapartidas financeiras de organismos internacionais. Esse, no entanto, permanece como uma das principais demandas do movimento no Amazonas.
Aos 52 anos, além de brigar por direitos essenciais, Neila se depara com a realidade de mulheres que integram a luta, o que muitas vezes impede um ‘entrar de cabeça’ no movimento. “Mulheres e mães formam a maior base do movimento, nas ocupações e na luta. Elas têm esse papel porque sentem na pele a necessidade de suas famílias. Mas ainda temos dificuldade em nos tornarmos referência representativa justamente porque precisamos também nos voltarmos à família. Esse é mais um desafio pela frente e não nos resta muita opção além de sermos fortes nessa luta’, pontua a líder do MNLM e mãe de três filhos.
Foto: Cila Reis