Em debate no UIA2021RIO, a arquiteta Ester Carro e o cientista Silvio Meira mostram a contribuição de tecnologias sociais e digitais na transformação do espaço urbano
Ester Carro nasceu e cresceu no Jardim Colombo, um bairro da favela de Paraisópolis, a maior de São Paulo. Quando formou-se arquiteta já estava decidida a aplicar seus conhecimentos para a melhoria do ambiente em que vivia. Em sua apresentação, no debate Mudanças Tecnológicas e Sociais, do 27º Congresso Mundial de Arquitetos, ela conta como transformou um lixão em um parque, com a colaboração dos seus vizinhos, e fala de outras iniciativas que tomou a partir de então.
“Na minha infância, a Fazendinha era um terreno onde se criava animais, mas foi ficando coberto de lixo, trazendo riscos para os moradores“, comenta. Inspirada pela experiência de Mauro Quintanilha, que criou o Parque Sitiê, na favela do Vidigal, no Rio de Janeiro, e contando com o apoio do Arq Futuro, Ester convenceu a comunidade do Jardim Colombo a transformar o local: começaram com um mutirão de limpeza, trabalharam na estabilização do solo, fizeram o mobiliário urbano, o paisagismo – tudo a partir de material reciclado. “Então, eu comecei a pensar que o lixo é um problema em vários lugares e que a solução deveria ser replicada. Passei a trabalhar no desenvolvimento dessas soluções junto ao Insper”.
Em paralelo, Ester deu continuidade à mobilização na comunidade, promovendo atividades de conscientização e capacitação, como as oficinas de gastronomia e construção civil para mulheres desempregadas. “Elas começaram a fazer as reformas de suas próprias casas e arrumaram trabalho. A capacitação gerou emprego e renda”. O relato contundente de Ester é concluído com a sua observação de que “as mudanças são possíveis, estão acontecendo, e podem ganhar escala, gerando impacto e uma efetiva transformação social”.
Na sequência, Silvio Meira, um dos maiores pensadores em inovação e evolução tecnológica, fala sobre as mudanças em curso nas sociedades em decorrência das novas tecnologias. Ele pontua que a computação na nuvem e os smartphones proporcionaram uma revolução digital, trazendo novos métodos de produção e novos contextos para a articulação entre pessoas. “São novos fluxos em cima dos espaços físicos das cidades. Temos sistemas com 2 bilhões de usuários e 100 bilhões de mensagens enviadas por dia. E, com o 5G, além das pessoas, teremos objetos conectados – até 1 milhão por quilômetro quadrado. O impacto disso será enorme nos deslocamentos, no trabalho, nos desenhos das casas e cidades”.
Silvio Meira também comenta da “aceleração digital” decorrente da pandemia: “em termos de introdução digital na sociedade, com todas as desigualdades e rupturas que isso significa, não estamos em 2021, mas em 2025. Só que as estruturas políticas, econômicas, sociais, educacionais não deram esse salto. Isso agrava a desigualdade entre quem tem as competências e meios para participar da evolução digital e quem não tem. O salto cria um número gigantesco de oportunidades, mas também gera um número considerável de novos problemas”.
Complementando a colocação de Meira, Ester Carro faz uma observação sobre aspectos paradoxais da tecnologia: ela ainda não é acessível ao conjunto da sociedade, o que pode aumentar a exclusão, mas funciona como um “elo entre o formal e o informal”. Por fim, Meira destacou o papel preponderante da educação na condução das transformações sociais: “a escola é o que estrutura as pessoas para a vida e assim estrutura as sociedades”
Sobre os debatedores:
Ester Carro é arquiteta e ativista urbana, professora e pesquisadora no Núcleo de Mulheres e Território do Laboratório de Cidades (Arq. Futuro e Insper) e participa do programa Fellowship da Avenues São Paulo, campus da americana Avenues The World School. Desde 2017, é Presidente do Fazendinhando, movimento de transformação física, cultural e social, no Jardim Colombo, na favela de Paraisópolis, São Paulo. Em 2019 foi uma das selecionadas para participar da XII Bienal Internacional de Arquitetura, com o projeto “Contribuições para outra narrativa” exposto no Centro Cultural de São Paulo.
Silvio Meira é cientista-chefe e fundador da Digital Strategy Company e fundador e presidente do conselho de administração do Porto Digital, em Pernambuco. É também professor da CESAR.school e professor emérito do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi membro do Berkman Center, da Universidade de Harvard. Formado em engenharia pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), é mestre em informática pela UFPE e PhD em Computação pela University of Kent at Canterbury, no Reino Unido. É autor do livro Novos Negócios Inovadores de Crescimento Empreendedor no Brasil.
O debate Mudanças tecnológicas e sociais estará acessível, até domingo, 23 de maio, na página:
https://aberto.uia2021rio.archi/debates/mudancas-tecnologicas-e-sociais/
Depois, ficará disponível apenas na plataforma exclusiva aos inscritos no 27º Congresso Mundial de Arquitetos.
Para fazer sua inscrição, acesse: www.uia2021rio.archi