O que esperar do mercado de trabalho para arquitetos e urbanistas nos próximos anos? Qual o impacto que a retirada de direitos conquistados vai produzir mais lá na frente? Essas e outras questões foram tema do debate de abertura da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), na programação do 27° Congresso Mundial de Arquitetos – UIARio2021. A live “Mundo do trabalho: transformações no espaço das relações contemporâneas”, realizada neste domingo (18), às 17h, e transmitida pelo canal do Youtube da FNA, contou com a mediação da presidente da federação, Eleonora Mascia. Para ela, “essa é uma pauta imprescindível do movimento sindical”. “Estamos diante de uma realidade preocupante, com as altas taxas de desemprego, precarização das relações trabalhistas e uma maior informalidade, não só para os profissionais de arquitetura, mas para todos os trabalhadores de um mundo que passa por mudanças”, destacou.
O sociólogo e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP), Ricardo Antunes, salientou que a pandemia ajudou a desnudar uma tragédia humana e social. No Brasil, numerou, há mais de 20 milhões de desempregados, sendo mais de 6 milhões por desalento, além de outros 33 milhões de pessoas subutilizadas. “A pandemia não causou o flagelo do desemprego, muito embora em fevereiro de 2020 tínhamos mais de 40% da população na informalidade”, disse. Para o sociólogo, depois das lutas de 1968, houve um avanço profundo do capitalismo e, desde então, o sistema assumiu uma tendência declinante e depressiva, onde cada vez mais são tomadas medidas destrutivas em relação à humanidade. “A principal consequência disso é que aquela sociedade que vimos florescer no século 20, da grande indústria, começou a se desmoronar.” Fábricas flexíveis marcaram um período do capitalismo – redesenhado pela modelo da japonesa Toyota, o que chamamos de toyotismo, com a substituição de gente pela máquina.” Hoje, pontuou, a corrosão dos direitos levou à uberização do trabalho. “Estamos vivendo num mundo hoje que, a partir da flexibilização e da terceirização, caminhamos para a demolição completa dos direitos do trabalho, com uma massa de trabalhadores disponíveis”, disse.
A vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/BR), Daniela Sarmento, levou um recorte de dados sobre a participação das mulheres na transformação do mundo do trabalho, fruto de uma iniciativa do conselho e da necessidade de enfrentar a desigualdade de gênero. Mais de nove encontros em diversos estados com arquitetos e sociedade, para discutir o papel das mulheres na arquitetura e nas cidades foram realizados. “As mulheres são afetadas diretamente no seu cotidiano e nos cuidados com a família, pois falta a participação delas nas demandas das cidades, sob aspectos como mobilidade urbana, habitacional, saneamento e segurança alimentar. “É preciso considerar a condição individual dessas mulheres à frente do cotidiano desigual do país. E levamos essa reflexão para a arquitetura. O que estamos fazendo e para onde estamos olhando”, questionou. Os dados do CAU/BR evidenciam a necessidade dessa reflexão, uma vez que 64% dos profissionais em Arquitetura e Urbanismo hoje são mulheres e que, num futuro próximo – dado o fluxo de formação acadêmica onde 79% atualmente são mulheres – é necessário pensar sobre o que elas trazem para a construção desse processo de transformação no mundo do trabalho.
Para o assessor do Fórum das Centrais Sindicais Clemente Ganz, é preciso olhar para a dinâmica do mundo de trabalho a partir da forma como o sistema produtivo se organiza. O núcleo do sistema produtivo passa por momentos profundos de transformação, que sob a ótica da produtividade, substitui pessoas por máquinas. “Essa ocupação das máquinas na atividade econômica, abre um conjunto de transformações no sistema econômico e também na organização do trabalho.”, pontua. Isso altera a lógica das relações de trabalho e os resultados de uma empresa. Crise mundial de 2008 trouxe a condição de flexibilização das condições de trabalho, da retirada da proteção do trabalho e da participação dos sindicatos, facilitando as empresas a reorganização do sistema produtivo.
O sociólogo português e delegado sub-regional do Instituto Nacional de Estatística, Alfredo Campos, destacou que as transformações do trabalho são respostas da crise do capitalismo. Segundo ele, da forma como se apresenta a tecnologia, dá a entender que ela ‘precisa’ alterar as relações de trabalho. Para ele, o que a tecnologia faz é substituir o trabalho rotineiro, mesmo que esse trabalho seja qualificado. “Também é vendida essa necessidade de flexibilização como sendo uma resposta às exigências dos consumidores.” No entendimento do sociólogo e professor associado da Universidade Federal da Paraíba, Roberto Veras, vivemos um momento histórico na correlação de forças do capital e trabalho. Entre essas transformações, surge o processo de transformação tecnológica, com o acirramento da concorrência intercapitalista, as disputas geopolíticas entre as nações e pelo objetivo politico-empresarial de quebrar a resistência dos trabalhadores. “Nesse último objetivo, as inovações tecnológicas atuam depreciando a força de trabalho, depreciando o conhecimento dos trabalhadores e incorporando esse conhecimento em equipamentos e máquinas. Também amplia o controle dos trabalhadores, colocando-os numa posição defensiva no chão de fábrica. Esses processos extrapolam a fronteira da produção e inundando o mundo do consumo, num processo de efeito de legitimação social se estabelece
A fundadora da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Conselheira do Instituto Lula, Clara Ant, salientou que, o que ocorre na sociedade brasileira é uma queda de braço. “Sempre tem alguém puxando a corda com mais força. “É o que vemos no Brasil hoje, após quase um século de lutas pela criação de uma central sindical. Foi um trabalho centenário para se chegar a uma legitimação do sindicalismo”, disse.
*O conteúdo desta live ficará disponível na plataforma exclusiva do UIA2021RIO, na seção ‘DIÁLOGOS COM A SOCIEDADE’.
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