Morre o homem, nasce o mito

 

A Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas manifesta profundo pesar pelo falecimento do Arquiteto Oscar Niemeyer. 

 

Oscar Niemeyer no Palácio da Alvorada

Autor dos mais emblemáticos projetos arquitetônicos no Brasil e no mundo ao longo do século XX, Niemeyer fez de seu traçado modernista um símbolo nacional. A contribuição de sua obra para a formação da identidade brasileira permitirá que seja sempre lembrado pelas gerações seguintes como um marco na história da Arquitetura e Urbanismo.

Oscar Niemeyer faleceu no Rio de Janeiro na noite de 5 de dezembro, emblematicamente, no momento em que os arquitetos e urbanistas brasileiros e representantes de instituições de arquitetos de várias partes do mundo estavam reunidos no Memorial Juscelino Kubitschek, ex-presidente do Brasil que soube reconhecer a sua genialidade quando foi prefeito da cidade de Belo Horizonte na década de 1940.

Praça dos Três Poderes

Participávamos de um seminário comemorativo de um ano de criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil – CAU, do qual Niemeyer foi ardoroso defensor. Nos deixou silenciosamente enquanto estávamos reunidos em celebração à arquitetura e urbanismo. E juntos, arquitetos e urbanistas de todo o Brasil e de diversos paises do mundo, dividimos a dor de tamanha perda. Testemunhamos o falecimento do homem e arquiteto Oscar Niemeyer, mas, paradoxalmente, também presenciamos o nascimento de um mito.

 

Podemos afirmar que Oscar Niemeyer há muito deixou de ser apenas um arquiteto. Foi um poeta revolucionário! Do concreto pesado fez poesia através de curvas leves e flutuantes, luz e sombra, amplitude e liberdade, arte e técnica.

Memorial da América Latina

Sua capacidade de síntese, na representação gráfica de traço único e marcante, nos mostra que a beleza pode ser dialeticamente simples e complexa. Simples na forma e complexa na concepção. E com conhecimento de causa afirmava que “quando uma forma cria beleza tem na beleza sua própria justificativa”. 

Filósofo da vida e da forma, Niemeyer representa para o mundo, e em especial para o Brasil, uma das maiores referências da arquitetura moderna. Quase aos 105 anos e ainda trabalhando, sua lucidez e capacidade de produção não nos permitiam dúvidas quanto à essência de um dos pensamentos do grande Mestre: “a gente precisa sentir que a vida é importante, que é preciso haver fantasia para poder viver um pouco melhor”.

Acreditamos que decorre dessa certeza a sua inabalável convicção ideológica e o fato de não ter se deixado cooptar pelas vaidades humanas. Pelo contrário! Ciente da sua importância para a sociedade é que nos ensinou a cada dia que a luta por uma sociedade melhor e mais justa é tarefa de todos.
Catedral de BrasíliaO mais importante arquiteto do século 20 e um dos mais importantes de todos os tempos, Oscar Niemeyer foi e será motivo de orgulho para todos os brasileiros e, em especial, para todos os arquitetos e urbanistas.

 

Este 15 de dezembro não representaria apenas mais uma data de aniversário de tão ilustre personagem da história da humanidade. É uma data especial na qual a maior homenagem que poderemos prestar ao nosso querido Niemeyer, pela sua passagem para outro plano, será reafirmarmos os compromissos que o levaram a ser uma das nossas maiores referências históricas: de defesa da arquitetura e urbanismo e de luta incansável contra a miséria, a injustiça e as desigualdades sociais.


E é com profunda tristeza que testemunhamos este momento de dor para Brasil, mas é com plena convicção que afirmamos que os gênios nunca morrem: eles se eternizam através das suas obras! E Niemeyer permanecerá vivo entre nós. Vida eterna ao Mestre dos mestres.

Arquiteto e Urbanista Jeferson Salazar
Presidente da FNA
Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas



Niemeyer e a luta pelo reconhecimento da profissão

Confira a carta escrita por Oscar Niemeyer em 25 de agosto de 2009 em defesa da criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo. O manifesto foi entregue ao então presidente do SARJ e atual presidente da FNA, Jeferson Salazar.

Confira o áudio da leitura da carta, realizada pelo então presidente da FNA, Ângelo Arruda, durante Audiência Pública no Congresso Nacional, em 26 de agosto de 2009, durante o debate sobre o Projeto de Lei que previa a criação do CAU.