Mais do que homenagens, o dia 8 de março representa a luta mundial das mulheres por igualdade e respeito. Embora o Brasil tenha elegido sua primeira presidenta nas eleições de 2010, a discriminação e a atribuição de papeis de gênero limitadores ainda restringem a população feminina em suas vidas pública e profissional.


Das sufragistas do início do século XX, que há exatos 80 anos conquistaram o direito ao voto no Brasil, às mais de 70 milhões de brasileiras que, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, representaram 51,82 % do eleitorado nacional no pleito de 2010, muitas conquistas políticas ocorreram no País, como a definição de um percentual mínimo de 30% de vagas reservadas a candidatas do sexo feminino, a criação de secretarias de políticas para mulheres ao longo da última década e a existência de gestoras mulheres em todos os cargos eletivos no Brasil.


No mercado de trabalho, a presença das mulheres cresceu de 55,4% para 56,2% entre 2011 e 2012, de acordo com pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (DIEESE) divulgada em 6 de março de 2013 – a taxa de participação dos homens foi de 71,5%. Novas oportunidades profissionais, sobretudo no setor de serviços, aproximaram a taxa de desemprego das mulheres, 12,5%, da de homens, que aumentou de 8,6% para 9,4% no último ano.


Em contrapartida, essa representatividade ainda não é socialmente reconhecida no Brasil. Apesar de serem maioria na população, as mulheres exercem apenas 12% dos cargos eletivos no Legislativo e no Executivo. Estudo do IBGE divulgado no ano passado afirma que, em 2011, as mulheres recebiam 72,3% do salário pago aos homens. Elas ainda têm de dar conta de uma tripla jornada: cabe à maioria das mulheres, além do trabalho, a dedicação solitária aos afazeres domésticos e ao cuidado com os filhos, além de estarem mais vulneráveis às violências física, psicológica e sexual.


Um longo caminho, portanto, ainda precisa ser percorrido. A CUT Nacional promove, em todo o País, ações de valorização da mulher no mercado de trabalho, lutando por salários iguais, além de atentar para questões como o poder paritário nas instituições, o fim da violência doméstica e o direito às creches públicas, essenciais para a mulher mãe e trabalhadora. É necessária, assim, a união das profissionais e entidades na defesa de igualdade nas condições de trabalho.

 

O reconhecimento do trabalho de Arquitetas e Urbanistas

Na maioria das universidades brasileiras, as estudantes de Arquitetura e Urbanismo são tão numerosas quanto os colegas do sexo masculino. A inserção das mulheres na profissão ocorreu mais intensamente a partir dos anos 1980, conforme a dissertação de Flávia Carvalho de Sá, apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 2010.


O trabalho aponta que, hoje, o exercício profissional de mulheres se dá, sobretudo, como autônomas, assim como ocorre com os homens. Porém, as Arquitetas e Urbanistas ainda são mais associadas a carreiras relacionadas ao Paisagismo, à Arquitetura de Interiores e ao ensino e à pesquisa, de modo que enfrentam dificuldades em terem seus nomes reconhecidos pela execução de grandes projetos arquitetônicos.


O destaque concedido às produções das Arquitetas e Urbanistas é recente. No Brasil, profissionais como a Arquiteta modernista Lina Bo Bardi (1914-1992), que projetou o Museu de Arte de São Paulo, a Arquiteta, Museóloga e Historiadora da Arte Marta Rossetti Batista, que dá nome ao a Prêmio de História da Arte e Arquitetura entregue pelo Instituto de Estudos Brasileiros da USP, a Professora, Urbanista e ex-Ministra Adjunta do Ministério das Cidades, Ermínia Maricato e a Professora e Urbanista Raquel Rolnik, uma das principais vozes na luta pela justiça social da atualidade, iniciaram uma lenta jornada para que seus trabalhos fossem igualmente valorizados.

 

Jandira França: vida de lutas em prol da Arquitetura e Urbanismo

A Arquiteta e Urbanista baiana Jandira França é a primeira presidenta do CAU/BA e compõe a Diretoria Regional da FNA. A profissional é ex-presidenta do Sindicato dos Arquitetos no Estado da Bahia (SAEB) e representou a entidade por duas gestões no CREA-BA. Jandira começou a militância no Sindicato nos anos 90 “por entender que era a entidade de defesa dos profissionais” e, desde então, assume lutas pela valorização da profissão. Em sua trajetória, enfrentou dificuldades relacionadas à questão salarial e sempre notou que a desvalorização do Arquiteto e Urbanista é reflexo do fato de se considerar Engenheiros aptos a exercer atividades que são atribuídas somente aos primeiros.


Hoje, através de sua atuação, defende pautas como “melhor qualidade no exercício profissional, defesa do espaço do Arquiteto, maior responsabilidade dos Arquitetos e Urbanistas, interiorização dos Arquitetos tendo em vista a constatação da inexistência de profissionais em 90% dos munícipios o que permite a invasão de outros profissionais na área de atuação dos Arquitetos e Urbanistas. Os municípios necessitam de mais profissionais com salários dignos conforme estabelece a legislação”. Ela também ressalta que a defesa do Salário Mínimo Profissional na área pública e na iniciativa privada é uma bandeira comum do Sindicato, da FNA e do CAU.


Quanto à participação feminina no mercado de trabalho da Arquitetura e Urbanismo, Jandira concorda que as mulheres continuam bastante vinculadas às áreas de paisagismo e interiores. Segundo a profissional, é necessária, portanto, “uma postura mais incisiva, de abertura de espaço no mercado de trabalho para a conquista de outros filões”.