A identificação com a questão ambiental fez com que o arquiteto e urbanista José Afonso Botura Portocarrero, reconhecido pela FNA como o Arquiteto do Ano – 2014, voltasse sua atuação acadêmica e profissional a projetos de sustentabilidade. Inspirado nas construções indígenas, ele preza sempre pelo aproveitamento de recursos naturais seja em habitações ou no planejamento urbano.
Com experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Planejamento, Tecnologia e Projetos da Edificação e Habitação Indígena, atualmente é professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFMT e pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Tecnologias Indígenas – Tecnoíndia. Conheça, abaixo, um pouco dos conceitos e opiniões de Portocarrero.
1. Como você vê a arquitetura moderna?
Acho que a arquitetura moderna é extremamente dinâmica e viva. O movimento moderno é uma mudança de pensamento contemporâneo que se espraiou após os anos 30 e foi forte na arquitetura. A preocupação com as pessoas e com o ambiente, especialmente o ambiente urbano, são méritos da arquitetura moderna.
2. Qual sua visão de profissão e dos novos profissionais?
Os arquitetos brasileiros devem ter compromisso muito grande com a questão ambiental, pois estamos atravessando um período em que estamos chegando perto do limite e isso tem um significado muito grande para os arquitetos e urbanistas. Esse é um comprometimento que temos que assumir, especialmente no planejamento urbano, pois continuamos, ainda, criando cidades. Os arquitetos e urbanistas da nova geração têm que carregar essa preocupação, também, no que diz respeito à habitação, pois ainda pouco se trabalha com projetos sustentáveis e que avancem na eficiência energética. Cada vez mais o planeta precisa consumir menos e esse é um compromisso que as novas gerações precisam compreender.
3. Como se deu a sua identificação com a área da sustentabilidade?
Esta é uma preocupação que carrego e aprendi com meus professores. Os arquitetos e urbanistas devem aproveitar todo tipo de energia a favor da construção. Esta é uma lição muito antiga e que agora “está na moda”, pois repercute na mídia. Posso dizer que aprendi muito com as tecnologias que os índios utilizam para fazer suas casas quando fiz a pesquisa sobre habitações indígenas, que foi meu trabalho de mestrado na UFMT e doutorado na USP. Temos que aproveitar os recursos naturais ao máximo. Na medida em que você se utiliza desses meios, está contribuindo para a construção sustentável. Usar esses recursos a nosso favor é nossa responsabilidade enquanto arquitetos e urbanistas.
4. Qual é a grande tendência da arquitetura e urbanismo para o futuro?
Estamos recebendo alguns avisos muito fortes de que as coisas têm que mudar, como a crise de água que está acontecendo em São Paulo. É um sinal que vai pautando o caminho para uma arquitetura mais atenta, projetos mais inteligentes. Na UFMT temos o Núcleo de Estudos e Pesquisas Tecnologias Indígenas dentro do Departamento de Arquitetura e Urbanismo. É um grupo de pesquisa que trabalha no sentido de manter esse desenho vivo e de forma que possa se misturar com o contemporâneo. É conveniente e apropriado que se faça essa relação a partir destes princípios que estes povos utilizavam. Não se trata de copiar o desenho indígena de raiz das nossas primeiras casas, mas integrar com as tecnologias que dispomos hoje.
5. Destaque um projeto no qual atuou e que tenha satisfação.
Um trabalho interessante que fiz é o Memorial Rondon, em Santo Antônio do Leverger, distrito de Mimoso, Mato Grosso. A obra, que está em andamento e já foi interrompida diversas vezes, tem como referência são as habitações indígenas. É a arquitetura traduzindo o trabalho de Marechal Randon – que dedicou a vida a cuidar de índios – como se o Memorial fosse uma grande aldeia. E também destaco o Centro Sebrae de Sustentabilidade, o primeiro projeto do Estado a receber a certificação do selo PROCEL de eficiência energética nível A para projeto e edificação, em 2013; e o livro Tecnologia Indígena em Mato Grosso – Habitação, lançado em 2010 e que recebeu o 25º Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira. A obra traz desenhos das casas indígenas como tecnologia.
* Formado em 1976 pela Universidade Católica de Santos (FAUS), José Afonso Portocarrero tem especialização em Planejamento Urbano pela Dortmund Universität, na Alemanha, em 1984; mestrado em História, pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em 2001; e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) em 2006.