Uma edificação quase centenária, construída em 1916 com projeto de Irmãos Maristas na capital cearense, será tombada como patrimônio histórico e cultural de Fortaleza. A importância do prédio do ponto de vista urbano na formação do Centro de Fortaleza é um dos motivos que justificam a relevância do Colégio Cearense, explica o arquiteto e urbanista Jober Pinto, coordenador de Patrimônio Histórico e Cultural da Secretaria Municipal de Cultura. “É parte muito forte da memória coletiva da cidade”, comenta.

 

No dia 8 de janeiro, o Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Fortaleza (Comphic) aprovou, por unanimidade, a instrução de tombamento da edificação onde funcionou o Colégio Cearense do Sagrado Coração, recentemente adquirida pelo Centro Universitário Estácio/FIC. O documento, que contém análises históricas e arquitetônicas do patrimônio, foi elaborado pela Coordenação de Patrimônio Histórico e Cultural da Secretaria de Cultura do município.

 

Faz parte do patrimônio tombado uma capela construída em 1917 e ampliação de 1935, que seguem a mesma linha arquitetônica do bloco original de 1916. “O edifício tem uma linha eclética muito simples”, define Jober. Outra ampliação, esta com arquitetura moderna clássica, realizada em 1960, cujo projeto é de autoria do arquiteto e urbanista José Liberal de Castro, também está incluída. Para formalizar o tombamento, que foi solicitado pelo Ministério Público e pela Câmara de Vereadores, falta apenas a assinatura do prefeito de Fortaleza, Roberto Claudio, o que deve ocorrer em um prazo de até 120 dias.

 

Segundo Jober, a aprovação da instrução de tombamento do Colégio Marista foi um passo muito importante para a proteção definitiva do complexo arquitetônico. “A instrução define como objeto do tombamento o complexo edificado mais antigo, incluindo o edifício vertical de linhas modernistas. Esse fato, além da importância evidente de salvaguardar o registro da evolução arquitetônica do complexo, serve como uma provocação que pode contribuir para impulsar em nossa cidade um debate acerca das formas e critérios de preservação da arquitetura moderna, um tema extremamente atual no âmbito do debate contemporâneo em torno ao patrimônio edificado”, esclarece Jober.

 

Sobre o Colégio Cearense do Sagrado Coração

 

Obra educativa católica do início do século XX, o Colégio Marista foi uma das primeiras instituições de educação assentadas em Fortaleza. Nos fins do século XIX, aproximadamente em 1897, os Irmãos Maristas, religiosos católicos, chegaram ao Brasil e iniciaram sua obra educativa. Fundado em 1914 pelos Padres José Quinderé, Climerio Chaves, Misael Gomes e Otávio de Castro, o colégio passa por profundas transformações de ordem e sentidos, a partir das mudanças na ordem política, econômica, social e educacional que estão acontecendo em Fortaleza das décadas de 1920.

 

Ainda durante os anos 1920, acontece a Semana de Arte Moderna e a fundação da Associação Brasileira de Educação, advertia a emergência de uma nação mais democrática e participativa. Diante desse cenário, a educação era também uma das mais importantes ferramentas para a constituição da população da época, sobretudo do “novo trabalhador brasileiro”, laborioso e civilizado. Fieis aos princípios do Padre Marcelino Champagnat em “formar bons cristãos e virtuosos cristãos”, o Colégio Cearense integrava aos princípios da educação que percorria o cenário de Fortaleza a partir da década de 1920.

 

O Colégio Cearense encerrou suas atividades em 2007, dando lugar apenas à Faculdade Católica do Ceará, hoje também extinta. Em 2013, comemorou o centenário de sua fundação. Em dezembro de 2014, a edificação foi adquirida pelo Grupo Estácio.