Após 13 dias, universitários que ocupavam uma casa localizada no número 1799, da rua Félix Pacheco, Centro de Teresina, no Piauí, resolveram sair do imóvel no início da madrugada desta terça-feira (14 de julho). A ação Viva Madalena, nome dado em homenagem à proprietária da residência que faleceu em julho de 2014, pretendia impedir a demolição do prédio- construído no século XX – preservando o patrimônio histórico e cultural da cidade. A desocupação ocorreu após manifestantes prestarem depoimento no 1º DP, na manhã de segunda-feira. O estudante de Arquitetura e Urbanismo Emerson Mourão declarou que o fim do movimento ocorreu porque o imóvel ocupado se tratava de um imóvel particular.

 

“Demoramos a sair porque tivemos que deixar tudo limpo e arrumar nossas coisas. Saímos da casa quase à meia-noite e tudo foi acompanhado pelo agente de patrimônio, Airton Gomes, da Fundação Municipal de Cultura. Nossa conversa com a delegada foi tranquila e esclarecemos que não se tratava de invasão de domicílio, mas uma ocupação artística. Um dos motivos que nos levou a sair, foi que estávamos em um imóvel privado e se ficássemos mais dias, poderia se configurar crime, como alegou uma das herdeiras da casa que registro Boletim de Ocorrência contra a gente”, explica o estudante.

 

O universitário conta que os manifestantes só souberam que estavam sendo acusados de invasão de domicílio ao prestar depoimento. “Também contamos a delegada que uma das herdeiras tentou nos intimidar, levando policiais e advogados para obrigar a gente a sair da casa, isso sem nenhum documento”, reitera o estudante. Emerson Moura conta ainda que, apesar da desocupação, os manifestantes estão se articulando para organizar novas intervenções.

 

“Vamos no reunir e avaliar os pontos positivos e negativos do movimento para planejar ações futuras. Nosso papel de garantir que a casa ficasse de pé foi cumprido. Além daquele imóvel, outros também estão ameaçados de desaparecerem e vamos agir para tentar frear a destruição desenfreada”, reitera o estudante.


Saiba mais sobre o casarão no Piauí 

 

Telhas artesanais, ladrilhos hidráulicos e portas e janelas em madeira de lei são alguns dos objetos que compunham o imóvel e que, após o início da destruição, se perderam completamente ou estão em processo de deterioração. Os estudantes consideram a propriedade um “pulmão” na selva de concreto do Centro de Teresina. Isso porque o terreno possui medidas de 50m x 40m e a área construída ocupa somente um quarto do espaço. Todo o restante constitui-se basicamente de área verde com árvores centenárias.

 

Luan Rusvell, outro estudante de Arquitetura e Urbanismo que integra o movimento, destaca que o imóvel tem uma importância histórica inestimável e tem localização privilegiada na região do Polo de Saúde, o que despertou o interesse de empresários da região. Segundo ele, a Prefeitura de Teresina tem sido conivente com a ação. “Sabemos que o imóvel está no inventário da prefeitura, deveria ter sido preservado. Contudo, a demolição já foi iniciada. A casa foi construída em 1938 e possui características que estão se perdendo, porque a destruição é um fato”, declarou.

 

Os universitários destacam que a ocupação não configura apenas em uma situação de vigilância, mas sim de efetivação como ferramenta cultural e de preservação do patrimônio. No local já foram realizados saraus de poesia, oficinas de desenho e uma espécie de concurso de charges e cartoons relacionados à ocupação.