Os moradores da Vila Autódromo, ao lado do Parque Olímpico de 2016, no Rio de Janeiro, estão preocupados com a presença constante de escavadeiras. Na semana passada, a comunidade viu sua mesa de pingue-pongue, amplamente utilizada e feita à mão pelos moradores, esmagada em segundos. Tal fato, ocorrido uma semana depois de cinco casas terem sido demolidas, sem aviso prévio, em 23 de outubro, é visto como um ato simbólico de pressão e intimidação aos moradores remanescentes que resistem à remoção.

 

O morador Luiz Carlos relatou que a demolição começou às 7h30, sem qualquer aviso. “E porque ninguém estava lá [perto da mesa], tiraram tudo”, contou. Luiz continuou: “[A Olimpíada] é um mega-evento esportivo e não faz sentido, eles estão destruindo uma mesa de tênis que foi feita para as crianças da comunidade. É um contraste incrível”. A comunidade considerava a mesa valiosa. “Nós fazíamos churrascos e a mesa de pingue-pongue ficava ao lado para que todos pudéssemos jogar… nós tivemos até um torneio”, disse Luiz.

 

A construção de uma outra mesa de pingue-pongue foi prometida pelo administrador da obra um dia depois que a original foi demolida. Mas até agora nenhuma atitude imediata foi realizada pelos trabalhadores da obra. Como resultado, há temores crescentes na comunidade sobre a remoção de seu primário e único parque infantil, que fica ao lado. “O parque infantil está lá, por enquanto, não se sabe até quando, mas está na linha [de demolição] – e pode ser o próximo”, disse Luiz Carlos. Frustrados e se sentindo vulneráveis, os moradores têm postado desabafos na página da Vila Autódromo no Facebook.

 

Apesar de títulos legais à terra concedidos pelo governo estadual na década de 1990 e o compromisso público do prefeito Eduardo Paes com a permanência da comunidade, em agosto de 2013, confirmado com a BBC e, há duas semanas com O Globo, a Vila Autódromo tem sido alvo de uma remoçao quase total, de forma agressiva. Já retiraram 83% da comunidade nos últimos dois anos. Paes afirmou reiteradamente que parte da comunidade irá permanecer, mas um recente video oficial dos projetos do Parque Olímpico mostra a Vila Autódromo completamente removida.

 

Cerca de 50 famílias estão certas que permanecerão independentemente de qualquer indenização oferecida. A comunidade continua a planejar seu futuro e com o apoio de duas universidades elaborou um plano de urbanização (agora em sua quarta versão), confirmando que os moradores podem e querem co-existir com a construção do Parque Olímpico. A demolição da mesa de pingue-pongue, no entanto, veio como um choque devastador para muitos dos moradores remanescentes. Mas a comunidade continua a resistir e luta pela permanência dos seus espaços públicos.

 

Estudantes de arquitetura planejam requalificação

 

A comunidade, juntamente com professores e estudantes de arquitetura da Universidade Federal Fluminense (UFF), tem um evento planejado para este final de semana (14 e 15/11), para requalificar o parquinho da Vila Autódromo. O evento, planejado no mês passado, é parte de um programa de extensão à comunidade e vai realizar um mutirão utilizando materiais reciclados recolhidos pelos moradores para regenerar a área.

 

No mês passado a ONU-Habitat organizou o Outubro Urbano, incluindo o Dia Mundial da Habitação, dia 5 de outubro, que celebrou o tema “Espaço Público para Todos“. Conforme descrito pela ONU: “Os espaços públicos reforçam a coesão da comunidade e promovem a saúde, felicidade e bem-estar para todos os cidadãos, bem como fomentam o investimento, o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental.”

 

Além disso, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon afirmou: “Espaços públicos incentivam as pessoas a se comunicarem e colaborarem uns com os outros, e de participarem da vida pública”. Esta é uma preocupação crucial para a Vila Autódromo, enquanto continuam sua batalha para viver ao lado dos Jogos Olímpicos. O Secretário-Geral das Nações Unidas salientou que os espaços públicos são “cruciais para os cidadãos pobres e vulneráveis. Melhorar o acesso a eles aumenta a equidade, promove a inclusão e combate à discriminação”.

 

Na Vila Autódromo seu espaço público permitiu-lhes a sediar eventos da comunidade e receber pessoas de fora, incluindo estudantes universitários, grupos agrícolas, bem como o público em geral. A moradora Sandra Damias observou, “até mesmo aquelas pessoas que vêm de fora [da comunidade] se reúnem aqui”.