Com a Constituição Cidadã nas mãos e o grito de “não vai ter golpe” na garganta, deputadas, senadoras e mulheres dos movimentos sindical e sociais reuniram-se no Salão Verde da Câmara dos Deputados, na tarde desta quarta-feira (16/12), para apresentar mais uma frente de resistência ao golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. Neste Dia Nacional de Mobilizações, parlamentares do PT, PCdoB, PR e PDT uniram-se a lideranças de organizações como a CUT, Marcha Mundial de Mulheres e a Marcha das Mulheres Negras para falar sobre a ausência de provas para um impeachment de Dilma e sobre os retrocessos que tomaram conta do Congresso com Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à frente da Câmara.
Algumas entidades, como a Marcha Mundial de Mulheres, não puderam participar da atividade porque, como acontece desde o início da gestão Cunha, foram barradas na porta da Casa. Isso, porém, não impediu de deixar claro que a vida dos golpistas não será nada fácil. “Nós nos sentimentos empoderadas por políticas públicas como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Pronatec, Mais Médicos, políticas de acesso a universidades públicas, de combate à violência contra a mulher e de ver a primeira mulher subir a rampa do Palácio do Planalto. Esse impedimento não tem fundamento e não podemos chamar de outra coisa que não seja golpe contra Dilma, contra o povo brasileiro e contra a democracia”, defendeu a deputada federal Vanessa Gramacho (PT-BA).
Fátima Bezerra, senadora pelo PT do Rio Grande do Norte, reforçou a defesa ao afirmar que “a mesma Constituição que permite o impeachment também impõe regras para que seja instalado e temos clareza para dizer que o processo de impedimento não tem embasamento jurídico e legal”.
Que tal democracia?
Senadora pelo PCdoB do Amazonas, Vanessa Grazziotin, sugeriu à oposição insatisfeita com Dilma que deixe a pequenez do golpe e aposte na democracia, derrotando o atual governo nas urnas. “Se a oposição, retrógrada, privatista e contra os direitos dos trabalhadores quer tomar o poder, que vença as eleições. Enquanto tivermos voz e força estaremos nas ruas.”
Deputada pelo PCdoB do Rio de Janeiro, Jandira Feghalli ressaltou que o incomodo dos defensores do impechment não é com os erros, mas com os acertos do governo. “Querem derrubar o governo não pelo problema transitório que enfrenta, mas pelo projeto que se contrapõe ao ódio, intolerância e restrição de direitos. Restrição que tem nas mulheres as primeiras vítimas”, definiu.
Vice-presidenta da CUT e dirigente de origem rural, Carmen Foro também apontou como as medidas para distribuição de renda incomodaram diversos setores nos últimos13 anos. “O que estão tentando fazer não é algo pessoal com a Dilma, apesar de o fato de ela ser mulher ampliar esse ataque, mas estão mirando um projeto que, para quem mora no campo, fez muita diferença. Ter habitação rural, crédito, um novo projeto para produção e aquisição de alimento, áreas quilombolas reconhecidas fazem muita diferença e incomodaram uma elite acostumada a ver as coisas permanecerem como estavam há 500 anos.”
Golpe é só o primeiro passo
Secretária de Relações do Trabalho da CUT, Maria das Graças Costa, ressaltou que o impeachment é apenas um dos itens da agenda dos golpistas, que inclui a flexibilização do conceito de trabalho escravo, a redução da maioridade penal, a terceirização sem limites, a ampliação das horas extras para os trabalhadores rurais e, claro, os direitos das mulheres. “Se esse impeachment passar, a agenda do retrocesso estará em primeiro lugar. Por isso, não vai ter golpe!”
Na mesma linha, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) destacou que as primeiras vítimas da consequente redução de direitos a partir do golpe são justamente os trabalhadores e os setores dentro do mundo do trabalho que estão na base da pirâmide. “Sempre que voltamos para um estágio anterior, as mais atingidas são as mulheres, a juventude, os nossos filhos. Ainda que tenhamos de melhorar nessa etapa da crise, mudanças econômicas, a alternativa a isso é um retrocesso ao que já conquistamos. Os avanços que a sociedade teve nos últimos anos foi fruto de uma escolha política tomada pelo presidente Lula e pela presidenta Dilma.”
Na outra ponta da tabela, ex-trabalhadora doméstica e deputada federal Benedita da Silva pelo PT do Rio de Janeiro, lembrou o papel de Dilma na regulamentação dos direitos das domésticas e reforçou que proteger seu mandato é proteger conquistas como essa. “As domésticas que, na maioria das vezes são mulheres negras, estão defendendo a presidenta Dilma e dizendo não ao golpe. Demos grandes passos e não queremos retrocesso.”