Os grandes meios de comunicação tentam confundir a opinião pública, misturando e associando luta política com luta partidária. Manipulam e escondem que a luta política está associada a concepção de sociedade e não é necessariamente uma luta partidária, como querem fazer crer.
O ser humano sempre foi político nas suas relações e assim continuará sendo, ainda que não tenha vinculação a nenhum partido político. A vida em sociedade é a expressão máxima dessa afirmação.
Entretanto, os grandes meios de comunicação ao confundirem deliberadamente uma coisa com outra têm como objetivo escamotear, de forma perversamente planejada, o que está realmente em jogo: grandes interesses econômicos versus a defesa do estado democrático de direito e da construção de uma sociedade participativa, o que assusta os setores mais conservadores (e mais ricos) da sociedade brasileira.
O jogo real não é apenas um mandato presidencial, mas tudo que este GOLPE representa como retrocesso às conquistas dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras.
Enquanto discutimos sai Dilma, fica Dilma, a pauta da extrema direita avança aceleradamente sobre conquistas históricas da sociedade brasileira, em especial do movimento sindical e dos movimentos populares. Basta ver os projetos de abertura da economia, de desmonte do Estado e da retirada da segurança jurídica dos direitos trabalhistas, representados pelos projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional e que somam mais de 50 propostas de lei em curso. Todos, sem excessão, com as digitais do grande empresariado nacional e/ou de parlamentares por eles financiados.
Neste sentido, cabe avaliar os efeitos da MP 700, gestada no Ministério das Cidades (Gilberto Kassab), que permite a desapropriação de áreas urbanas e rurais por empresas do ramo da construção civil, o PL 3772 (deputado Giuseppe Vecci – PSDB), que abre de forma indiscriminada a economia brasileira para empresas transnacionais, ao TD 171 (Texto para Discussão do Senado), que propõe a desregulamentação das profissões no âmbito da arquitetura e engenharia, a manifestação SAE 2013, sobre importação de mão de obra especializada de engenharia e arquitetura (Moreira Franco), o PL 4430, recentemente aprovado na Câmara e que permite a terceirização da mão de obra como jamais visto em nenhum outro país, o PL 257, que atinge o funcionalismo público, fragilizando as ações do Estado brasileiro, o PLS 131 (José Serra), que ataca de morte a política de exploração do pré-sal em benefício do país, entregando as reservas para as grandes petrolíferas internacionais, o ajuste fiscal e a reforma da previdência, que jogam nas costas dos trabalhadores a conta da sonegação histórica do grande empresariado nacional, entre outros, incluindo propostas de criminalização dos movimentos sociais.
Juntando a isso tudo o projeto “Uma Ponte para o Futuro” teremos um país sem soberania sobre seu próprio território e, principalmente, suas riquezas nacionais. Este é o dilema e o verdadeiro jogo que está sendo jogado: ou nos levantamos contra tudo isso ou assistiremos calados a derrocada de tudo aquilo que foi conquistado com muita luta pela sociedade brasileira.
Não. De fato não se trata de uma luta da política partidária, mas de uma luta política de concepção de estado e de projeto de nação.
Jeferson Salazar,
presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA)