Especialista em Gestão Social, Gestão Pública e Planejamento e Gestão de Cidades, a arquiteta e urbanista Gilcinea Barbosa, recém eleita presidente do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Estado da Bahia (SINARQ-BA), fala sobre os desafios e prioridades da luta sindical. Membro da diretoria desde maio de 2012, quando iniciou sua atuação sindical como vice-presidente, a dirigente ressalta que dará atenção especial aos servidores públicos e ao patrimônio arquitetônico do Estado.

 

Conhecedora das dificuldades, pois também atua como chefe de Projetos Urbanísticos da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), instituição vinculada à Secretaria Municipal de Urbanismo, Gilcinea também fala da realidade da arquitetura e urbanismo no Brasil e especificamente na região Nordeste.

 

Confira entrevista:

 

Quais são as principais lutas que o sindicato tem enfrentado na Bahia?

 

Estamos trabalhando com a luta dos servidores municipais, trabalhando com plano de cargos e vencimentos dos funcionários engenheiros e arquitetos do município de Salvador. Também estamos atuando na luta pelas leis urbanísticas da cidade, das quais algumas, inclusive, estão judiciadas. Estamos com a revisão do plano diretor e, nesse sentido, o Sinarq tem representação no conselho municipal da cidade e no conselho estadual. Então, estamos embarcando com o movimento social em prol de um plano diretor mais participativo.

 

Outra questão é em relação ao patrimônio histórico e ao patrimônio ambiental, não só de Salvador, mas da Bahia como um todo, que tem sofrido com vários problemas, como queimadas e desrespeito às leis de proteção. Em relação especificadamente a Salvador, há vários empreendimentos imobiliários implantados em áreas de patrimônio sem a devida atenção a legislação que protege o patrimônio e o seu entrono e em relação ao Centro Histórico, que também tem vários imóveis em ruínas. Inclusive, a prefeitura, com autorização do Iphan, demoliu 32 imóveis e há vários outros que estão para ser demolidos.

 

O Sindicato está atuando nessa luta, inclusive, junto com o IAB e o CAU, fez uma denúncia à Unesco para colocar Salvador na lista de cidades com patrimônio em risco. Estamos aguardando eles irem até Salvador, para poder fazer a averiguação. Estamos, na verdade, tentando trazer para discussão e debate da sociedade em geral, para que os responsáveis tenham atenção ao patrimônio e possam construir projetos que passem a requalificar e revitalizar todo o nosso patrimônio.

 

Como que você vê hoje o momento da arquitetura no Brasil?

 

As cidades, principalmente as capitais, estão implementando diversos projetos de melhoria. Porém, está faltando discutir melhor esses projetos modernos, tanto com participação social como com a questão de você poder pensar o planejamento de forma mais integrada. Eu acho que os projetos estão indo ‘a toque de caixa’ sem ter o tempo necessário de maturação, de discussão e de debate. E eu acho que não é só na região Nordeste, mas também no Rio de Janeiro e em outras capitais do país.

 

O que você projetaria para a arquitetura na região Nordeste da que 10 anos? Onde vocês querem chegar daqui 10 anos?

 

Meu desejo é a consolidação do Sindicato enquanto espaço de representação dos arquitetos da Bahia. A minha ideia é que a gente possa se fortalecer e se consolidar enquanto sindicato para a gente lutar e, daqui 10 anos, dizer ‘puxa, conseguimos construir a carreira dos servidores municipais e estaduais’. Fazer com que os empregados do setor privado sintam-se representados pelo Sinarq. Na verdade, a gente quer que o sindicato esteja representado na sociedade civil organizada.

 

E para a gestão da cidade, queremos que a cidade seja mais inclusiva. Hoje, as cidades, principalmente no Nordeste, são ainda alguns feudos. E mesmo quando você tem direito à voz, você pode ter direito na lei, mas de fato na gestão você termina sendo esquecido. Você fala, mas ninguém te ouve. Então, a gente quer que todo mundo tenha direito à voz.

 

E em relação ao patrimônio histórico?

 

Salvador é uma cidade de patrimônio e tem um potencial riquíssimo, altíssimo, e ele não é aproveitado da forma que a gente acha que seria o correto. Então, o que eu quero é que Salvador volte a ser a cidade que foi. Bonita, de magia, como eu conheci na minha infância e na minha adolescência. Salvador é uma cidade realmente encantadora e a gente quer que retorne esse encanto que está se perdendo.