Cerca de 100 pessoas participaram da edição especial do projeto de interiorização do Sindicato dos Arquitetos no Estado do RS – SAERGS para todos os arquitetos e urbanistas – Na Estrada, que teve como tema A Atividade do Arquiteto e Urbanista em Cidades Gêmeas do Brasil, Uruguai e Argentina. Foram 11 palestrantes que levantaram importantes questionamentos como a importância da gestão compartilhada e o papel do arquiteto e urbanista para evitar a perda da identidade cultural nas cidades de fronteira. O evento foi realizado no Hotel Jandaia em Santana do Livramento no último fim de semana (6 e 7/5).

 

A arquiteta e urbanista Maria Lucia Torrecilha abordou o tema A Fronteira, a Cidade e a Linha – Gestão Compartilhada. Torrecilha, que estuda há 15 anos o assunto, ressaltou a importância de se ter uma gestão compartilhada e políticas públicas que facilitem o desenvolvimento das cidades de fronteira. O RS tem a maior área de cidades gêmeas, seguido do Mato Grosso. No entanto, na visão da palestrante, é visível que o Brasil ainda tem muito o que avançar sobre o tema. Ela trouxe o exemplo das cidades de Kehl (Alemanha) e Strasbourg (França) que foram desenvolvidas a partir de um concurso público que contratou arquitetos dos dois países para planejar a linha de fronteira.

Modelo que deu certo

 

No debate seguinte, a arquiteta e urbanista Berenice Costa apresentou o projeto que está desenvolvendo de resgate do patrimônio cultural nas cidades de Bagé (RS) e Melo (UY), realizado através do Programa de Cooperação Técnica Descentralizada do Sul-Sul. O objetivo do trabalho é realizar o levantamento e planejar a recuperação e preservação do patrimônio material e imaterial do município de Bagé. Uma das exigências do governo brasileiro era de que fossem contratados um arquiteto e um historiador uruguaios para que o trabalho fosse realizado em conjunto entre os dois países. A arquiteta uruguaia Graciela Nagy, que está desenvolvendo o projeto ao lado de Berenice, também participou do painel e contou em detalhes como o trabalho está sendo feito nos dois países.

 

Uma outra fronteira é possível

 

O historiador Glécio Santos Rodrigues explanou sobre Cooperação Descentralizada e mostrou como é possível arquitetos e urbanistas participarem de projetos e programas de políticas públicas, ressaltando que existe espaço para se desenvolverem importantes trabalhos citando como exemplo as profissionais Berenice Costa e Graciela Nagy.

 

Motivação começa nos bancos da Universidade

 

Com a palestra Planejamento Urbano nas cidades da faixa de Fronteira com o Uruguai, dois professores do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas, Otávio Martins Peres e Maurício Couto Polidoro foram os responsáveis por motivar os mais de 30 alunos de Arquitetura e Urbanismo da Urcamp em Bagé. Eles afirmaram que é possível aproximar os arquitetos da comunidade, mostrando como exemplos os projetos desenvolvidos dentro do Laboratório de Extensão, onde os alunos fazem projetos aplicados a realidade. Os estudantes trabalham com Prefeituras, realizam diagnósticos e se aproximam da comunidade para ouvirem suas demandas. Os professores ainda explicaram como funcionam os programas utilizados na Faurb e apresentaram um projeto, criado pelos estuda ntes, para integrar duas cidades fronteiriças: Rio Branco (Uruguai) e Jaguarão (Brasil).

 

Compartilhando experiências: Arquitetura em prática na fronteira

 

Para entender melhor como se desenvolve, na prática, o trabalho em projetos de fronteira, o SAERGS convidou os arquitetos e urbanistas Tiago Holzmann da Silva (Presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil – Departamento do RS) e Alexandre Giorgi para falarem do desafio de seus trabalhos. Tiago apresentou seu projeto Beira Foz – Plano Nacional de Inclusão e Desenvolvimento Integrado cujo desafio foi a elaboração de um Plano Geral de Urbanização para as margens dos Rios Paraná e Iguaçu, na cidade de Foz do Iguaçu (PR), através de uma Operação Urbana Consorciada, envolvendo as três esferas de governo, a iniciativa privada e a sociedade civil. Outra obra desafiadora está nas mãos de Alexandre Giorgi, que mostrou o passo a passo do projeto que tem como objetivo entregar À comunidade de Uruguaiana um espaço público e de qualidade junto à orla do rio Uruguai. Falou, também, sobre a dificuldade que foi elaborar o projeto, tendo o cuidado de preservar o espaço da orla que anualmente é inundado pelas cheias do rio. Uma das iniciativas do arquiteto foi perguntar aos moradores da cidade o que eles gostariam de ter naquele espaço. Com base nas respostas, o projeto foi sendo feito.

 

A vez do Uruguai

 

Na sequência, foi a vez dos arquitetos Maria Vírginia Urchoeguia e Leonidas Bayo falarem sobre a revitalização de um dos espaços da Plaza Internacional (cartão de visitas e ponto turístico que marca a fronteira entre Brasil e Uruguai). O objetivo dos arquitetos era trazer “um olhar” mais moderno ao marco entre as duas cidades Rivera – Santana do Livramento. O projeto é para construir um Centro de Visitantes da Fronteira, espaço destinado a receber autoridades em eventos nacionais e internacionais. A obra, feita em parceria com a Prefeitura de Santana do Livramento e a Intendência de Rivera, gerou polêmica nas cidades. Os arquitetos falaram sobre a dificuldade de desenvolver um projeto arquitetônico que mexe com a vida das pessoas, já que alguns moradores não são favoráveis naturalmente a mudanças.

 

O primeiro dia do encontro terminou com um jantar oferecido pelo SAERGS em que a presidente, Andréa dos Santos, e o Presidente do IAB/RS, Tiago Holzmann da Silva, fizeram um convite aos demais PROFISSIONAIS para participarem do UIA – 2020. É a primeira vez que o Congresso Mundial de Arquitetura será realizado no Brasil, a cidade escolhida foi o Rio de Janeiro.

 

Da teoria para a prática

 

Na manhã de sábado, a delegada sindical do SAERGS em Livramento, Andréa Ilha, convidou todos os participantes a fazerem uma visita técnica À divisa entre os dois países. O trajeto foi feito de ônibus enquanto Andréa destacava as condições de trabalho do arquiteto e urbanista. O destaque do passeio foi o trecho percorrido a pé para a visita às obras do Parque Internacional, em que Bayo e Viriginia, arquitetos uruguaios responsáveis pelo projeto, puderam apontar detalhes da obra. O arquiteto também falou sobre a revitalização da área dos dos camelôs, onde, atualmente, os ambulantes tem seus produtos armazenados dentro de “armários” propondo um chamado camelódromo mais moderno.

 

Para concluir o Projeto de Interiorização Na Estrada – Na Fronteira, a presidente do SAERGS, Andréa dos Santos fez um agradecimento pela participação de todos e chamou atenção para a importância de eventos desse tipo em que os arquitetos e urbanistas têm uma pausa na correria do dia a dia para refletir sobre o futuro da profissão.