A necessidade de conhecer mais a fundo quem são e o que fazem os novos arquitetos e urbanistas brasileiros é um dos primeiros passos para começar a se repensar as diretrizes acadêmicas e a formação que vem sendo oferecida pelas dezenas de faculdades existentes no país. O tema foi abordado na tarde desta sexta-feira (16/9) na primeira das cinco oficinas preparatórias para o seminário “O Futuro da Profissão”, promovida pela FNA e Saergs com patrocínio do CAU/RS em Porto Alegre (RS).
A professora da Ufrgs Elena Salvatori foi uma das painelistas da tarde. A arquiteta e urbanista criticou a composição dos cursos uma vez que ainda formam arquitetos e urbanistas com vista a um perfil ultrapassado. “Muitas vezes os profissionais recém-formados reclamam muito do andamento da carreira nos primeiros anos. Isso é neutralizado com cerca de sete, oito anos de carreira. Isso mostra que os cursos não estão preparando os profissionais para o mercado”, constatou, lembrando que a universidade não ensina o profissional a trabalhar em equipe, mas estimula o desenvolvimento de projetos individuais, um modelo do que se conhecia da arquitetura há décadas.
O que foi alinhado é que é preciso ver a Arquitetura como uma profissão moderna que leva os profissionais a especializações. Em um novo perfil dos currículos é preciso atentar para quais áreas são passíveis de maior atenção e traçar um plano de definição de especialidades, claro que respeitando as especificidades regionais. Devido à extensão do Brasil há realidades diferentes a serem observadas. Enquanto em algumas regiões há pouquíssimas opções de curso, há outras onde a grande oferta de faculdades de Arquitetura poderia viabilizar uma certa especialização da grade curricular. Planos de educação continuada, que permitam aos profissionais pensar em uma formação mais completa após a graduação, foram alternativas pontuadas durante o debate mediado pela presidente do Saergs, Andréa dos Santos.
Mestre em Antropologia Social, Elena citou dificuldade em acessar informações sobre a carreira e a atuação dos arquitetos. “O que é mesmo que os nossos arquitetos estão fazendo? De que eles se queixam sobre a profissão? Que cursos buscam na hora de uma pós-graduação?”, questionou, incitando os profissionais presentes a repensar os conceitos pré-determinados sobre a profissão. “Precisamos abrir mão do artista criador e encarar mais de frente a nossa inserção no mercado e aprender a trabalhar em equipe”, provocou.
O debate ainda tratou da hipervalorização curricular dada às disciplinas de projeto e como elas “sugam” a atenção dos estudantes. “É preciso conhecer e tentar examinar alguns dogmas. A formação generalista é um dogma que se evita discutir. Temos que discutir a intervenção da arquitetura no futuro e no mercado de trabalho real”, completou. De acordo com Elena, nos últimos dez anos, cresceu na sociedade brasileira o entendimento de que o arquiteto é o profissional mais completo para trabalhar com relação às edificações, mas ainda há muito a avançar.
O painel ainda contou com intervenção do arquiteto e urbanista Ivan Mizoguchi. Estudioso do assunto ele lançará, em outubro deste ano, na Feira do Livro de Porto Alegre de 2016 seu novo livro sobre o tema intitulado “A Formação do Arquiteto”. A arquiteta e urbanista Camila Thiesen, que estará palestrando na oficina deste sábado (17/9), incitou o debate lembrando que viveu na pele a sensação de chegar ao mercado sem o embasamento necessário para iniciar seu próprio escritório. “No dia a dia, há questões que não se aprende na faculdade. Precisamos de noções de Direito, Administração, gestão e atendimento de clientes”, enumerou. Em contato com as novas gerações que estão estagiando nas empresas, Camila pontuou preocupação com o fato de que muitos mostram grande habilidade em produzir lindas imagens com uso da tecnologia, porém sem a reflexão necessária para a produção de um bom projeto arquitetônico.