Exemplos de profissionais que fazem a Arquitetura e Urbanismo foram narrados durante a terceira oficina promovida pelo Saergs e FNA, com apoio do CAU/RS, na tarde de sábado (17/9), em Porto Alegre (RS). Mediado pelo arquiteto e urbanista e professor Rinaldo Barbosa, o debate abordou os conhecimentos ofertados pelos cursos de graduação em arquitetura e como eles preparam os profissionais para diferentes mercados de trabalho. Rinaldo pontuou que a faculdade de Arquitetura e Urbanismo pratica hoje uma formação mínima, muito voltada para o ateliê.

“O profissional que se contentar com a graduação está fadado ao fracasso”, salientou, pontuando a relevância de se buscar novos conhecimentos e especializações que qualifiquem e direcionem a atuação de cada profissional. Isso porque, segundo ele, “conhecimento não se transmite. Conhecimento se constrói. E se constrói junto”. E alertou que hoje temos a questão da responsabilidade civil do arquiteto, o que nos obriga a fazer tudo com muita responsabilidade. “Há 20 anos, não se falava sobre responsabilidade civil. É preciso pensar que, se você arriscar e fazer o que não sabe, o problema será seu”.

As dificuldades de atuação foram pontuadas pelos debatedores. Trazendo relato da realidade de quem opera no Interior, a arquiteta Cristiane Rauber contou um pouco sobre sua atuação na região de Bom Princípio (RS). Filha de empreiteiro, disse que já estava acostumada ao canteiro de obras desde menina, mas que os desafios que se mostraram ao sair da faculdade em 2011 tiveram que ser superados com paciência, persistência e apoio de parceiros. “Saí da faculdade sem base e sem saber caminho. Mas aos poucos fui vendo que era preciso apresentar projetos completos, o que fiz com a parceria de engenheiros, designs e paisagistas. Sozinho não se vai a lugar algum”, contou, lembrando que, na região, há uma forte cultura que associa o projeto à execução. No início, conta ela, “abraçar tudo” era importante para adquirir experiência, mas hoje garante que já sabe selecionar seus trabalhos. Atualmente, sua atuação divide-se entre projetos residenciais e prediais e a paixão pelo patrimônio e restauro, o que a levou a realizar um curso na Europa.

Mas os desafios, segundo ela, ainda são muitos. “O cliente contrata o pedreiro e diz que ele faz o projeto. Esse é um desafio grande no dia a dia, o de tentar separar projeto de execução. Mas isso não consegue hoje na região”, desabafa. Segundo ela, ainda há muitas obras irregulares, principalmente as realizadas na zona rural do município, o que vem sendo combatido pela fiscalização dos conselhos profissionais.

Com mais de quatro décadas de atuação, o arquiteto Luiz Antônio Veríssimo narrou seu início de carreira, quando ainda muito novo, assumiu o desafios de ser secretário municipal na prefeitura de Pelotas (RS). Sem o preparo necessário no ambiente acadêmico, garante que aprendeu na prática o que, anos mais tarde, foi alvo de extensão em Urbanismo. “Era uma época em que não se falava em interiores nem em patrimônio. Quando era secretário, o Mercado Pelotas incendiou e se queria construir ali um Centro Administrativo. Eu era recém-formado, mas defendi a ideia de preservar”, relatou o arquiteto, um dos responsáveis pelo start no currículo da faculdade de Arquitetura da Universidade Católica de Pelotas.

O terceiro debatedor do painel foi o arquiteto e urbanista e consultor ambiental Fábio Bortoli. Autodidata, ele admite que saiu da universidade sem o respaldo necessário para seguir na área ambiental, mas que foi nos livros e com base em muito estudo que conseguiu os conhecimentos necessários para estruturar sua carreira. A ação, garante ele, só pode ser realizada com apoio de equipes multidisciplinares que envolvem diversas outras áreas do conhecimento, como biólogos de fauna, de flora, engenheiros , geólogos, geógrafos e sociólogos. “Para algumas partes desse trabalho, é fundamental a atuação de arquitetos e urbanistas”. Mesmo assim, pontua o também professor, não há valorização desses profissionais que atuam com o impacto urbano. “Não se vê muita gente trabalhando nessa área. Ninguém se forma na universidade pensando em trabalhar com isso”, desabafa.

Segundo ele, os problemas mais difíceis de serem resolvidos estão relacionados ao impacto das intervenções nas populações. “Com a tendência de desenvolvimento, a questão ambiental ficou jogada. O que vemos são populações marginalizadas deslocadas que sofrem muito com esse impacto”, pontuou reforçando que os interesses políticos nem sempre estão na mesma mão dos interesses populares. “As pessoas estão preocupadas com o seu acesso, a sua casa”, criticou. E lembrou a onda de judicialização dos processos referentes às questões ambientais. “Qualquer projeto pode ser facilmente contestado por entidades da sociedade civil, que acionam o Ministério Público e atropelam qualquer questão técnica”.

Incitando os debatedores, o vice-presidente da FNA, Cícero Alvarez, questionou sobre a conscientização dos profissionais frente à força do capital, e deu como exemplo projetos elaborados e executados por profissionais de arquitetura e urbanismo em áreas contaminadas. “São condomínios de luxo em terrenos com metais pesados, onde o morador não poderá ter um pomar ou deixar as crianças brincarem na grama. Onde fica a consciência das pessoas? Eu posso construir por uma necessidade nesse terreno sendo que isso não será bom para as pessoas? Estamos acostumados a nos preocupar em cavar e botar uma boa fundação. Precisamos saber que não é só isso”.