Durante a abertura do II Congresso Internacional de Arquitetura e Sustentabilidade da Amazônia (II ArqAmazônia), realizado em Manaus (AM), o arquiteto e urbanista Clóvis Ilgenfritz foi pego de surpresa: seu nome foi anunciado à plateia de mais de 200 pessoas como o vencedor do Prêmio Juan Torres, honraria concedida pela Federação Pan-Americana de Arquitetos (FPAA), instituição que congrega 32 associações de arquitetos em toda a América. João Virmond Suplicy Neto, presidente da FPAA, destacou que o prêmio é concedido pelo “conjunto da obra”, mas que no caso de Clóvis, ele se justificaria por uma só ação: sua atuação na criação da Lei de Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social, que garante aos brasileiros em situação de vulnerabilidade social o direito de ter orientação gratuita de arquitetos e urbanistas quando for construir sua casa.

 

Clóvis Ilgenfritz da Silva é considerado o pioneiro da assistência técnica no Brasil. Em 1976, realizou uma das primeiras experiências da área em Porto Alegre, o Programa de Assistência Técnica à Moradia Econômica. Na ocasião, o Sindicato dos Arquitetos do Rio Grande do Sul estabeleceu um convênio com a prefeitura da Capital. Foram disponibilizados pelo sindicato 70 jovens profissionais. Em quatro meses, cada arquiteto atendeu, em média, 10 famílias, que se mostraram satisfeitas com o resultado final de habitações saudáveis e com conforto e beleza. Depois disso, Clóvis iniciou sua longa carreira política, foi presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), vereador, secretário do Planejamento em Porto Alegre, secretário da Coordenação e Planejamento no Rio Grande do Sul e deputado federal.

 

Ao receber o prêmio, Clóvis destacou a necessidade de os arquitetos participarem mais da política institucional. “Nós somos os melhores produtores de documentos, mas as coisas ficam muito no papel. Temos que partir para outro patamar, participar politicamente de governos e entidades que tratam das cidades, introduzindo cada vez mais nessa estrutura a profissão de Arquitetura”, afirmou. “Eu fui para a política, e também ali me disseram isso, temos que conquistar o poder de decidir”.

 

Clóvis é o quarto arquiteto brasileiro a receber a honraria. Antes dele, foram agraciados os arquitetos Ermínia Maricato, Mario Mello e Miguel Pereira.

 

ABERTURA
O II ArqAmazônia faz parte do calendário oficial de eventos da FPAA. “Trata-se de um projeto inovador que traz a chancela das Nações Unidas. A poética da Arquitetura poderá sintetizar um novo paradigma”, afirmou o presidente da federação, João Virmond Suplicy Neto. Claudemir Andrade, presidente do IAB-AM e conselheiro federal do CAU/BR, revelou que 60% dos inscritos são de fora de Manaus. “Isso mostra que o ArqAmazônia ganhou as Américas”, afirmou. “Temos uma excelente programação científica. Conseguimos abranger uma quantidade de estudos e projetos”.

 

O vice-presidente do CAU/BR, Anderson Fioreti, destacou que o II ArqAmazônia é um dos eventos preparativos para o Encontro da União Internacional dos Arquitetos, que acontecerá em 2020 no Rio de Janeiro, e que seu sucesso mostra a capacidade de realização da categoria. “Tenho a opinião pessoal que nós arquitetos estamos perdendo a capacidade de conversar sobre a cidade, abrindo espaço para outros profissionais falarem sobre o que é de fato nosso campo de atuação: os problemas urbanos”, disse. “São debates como esse que nos credenciam a pautar a sociedade”.

 

Sérgio Magalhães, presidente do IAB, fez uma homenagem ao arquiteto e urbanista Severiano Porto, conhecido como “arquiteto da Amazônia”, pela sua capacidade de traduzir o conhecimento de construção dos índios em arquitetura contemporânea. “Querido mestre Severiano Mario Porto, que nestas terras da Amazônia, oferece uma obra magistral que engrandece a Arquitetura no Brasil e no mundo. É um arquiteto comprometido com todas as dimensões possíveis de nosso ofício”, afirmou.

 

Sérgio também destacou a importância da Arquitetura Sustentável, uma vez que nos próximos 25 anos o Brasil deverá construir mais 30 milhões de domicílios, metade do que já foi construído até hoje. “A cidade do Século XXI é a cidade onde o desenvolvimento econômico, social e político, é dela dependente. Nossas cidades pararam de crescer, nossa população tende a estabilidade e isso vai exigir de nós um novo enfrentamento”.