A quarta oficina preparatória ao Seminário Nacional “O Futuro da Profissão do Arquiteto e Urbanista” debateu nesta sexta-feira (30/09), em Porto Alegre (RS), os desafios da atuação do profissional no desenvolvimento das cidades em situações que, muitas vezes, se apresentam como entraves na execução de projetos. A atividade foi promovida pela Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), o Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas no Rio Grande do Sul (SAERGS) e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RS). O arquiteto e urbanista Tiago Holzmann da Silva, do escritório 3C Arquitetura e Urbanismo, contou como encontrou o caminho para auxiliar as prefeituras no desenvolvimento das cidades.

 

Formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1993, Silva morou quatro anos na Espanha, logo após deixar a academia. Esse período, segundo ele, foi fundamental para entender o exercício da profissão em momentos de crise, como a que o país enfrentava no período. Ele atuava em projetos de urbanismo em estradas, quando elas atravessavam as cidades.

 

Mais tarde, resolveu criar o 3C – Criar, Construir e Conservar, com outros três colegas. O trabalho do profissional, para ele, não deve ser feito de forma isolada, mas sim com o compartilhamento de ideias para que se possa chegar a uma solução pensando em conjunto, de forma compartilhada. “Percebi que muitas vezes os profissionais das prefeituras não conseguem olhar a cidade, porque são muitas coisas que se apresentam ao mesmo tempo diariamente. Vejo que é preciso entender primeiro o problema e montar um quebra cabeça de como resolver isso em um processo dentro da prefeitura, sempre em conjunto”, explicou.

A arquiteta e urbanista Karla Moroso, que atua no Centro de Direitos Econômicos e Sociais (CDES) Direitos Humanos, disse estar sempre voltada para a arquitetura social, em luta constante pela garantia do direito à moradia das comunidades mais pobres. “Tenho o olhar voltado aos que não têm como acessar a arquitetura, que estão à mercê do mercado ou do Estado, mas isso nem sempre é fácil”, comentou.

Karla lembrou que milhares de pessoas estão em áreas de risco e convivem diariamente com o dilema da necessidade de moradia e a ameaça para desocupação. “Essas pessoas estão em uma área de risco, mas elas precisam de moradia e, ao mesmo tempo, essa área tem um proprietário e aí nós temos uma situação já instalada que precisa ser resolvida, mas garantido o direito dessas pessoas”, disse observando que o diálogo nesses casos deve ser ampliado. “Uma das dificuldades é que o arquiteto sempre se depara com uma situação já construída e que precisa ser solucionada com a interlocução de outros profissionais como o assistente social e o advogado”, salientou ressaltando que essa tarefa, muitas vezes, não é ensinada nas universidades.

Já a arquiteta e urbanista Clarice Debiage, do Debiagi Arquitetos e Urbanistas, comentou sobre o mercado imobiliário e a sua experiência em uma nova empresa no meio. “Partimos do princípio que todo mundo faz as coisas juntos. A gente quer fazer o nosso trabalho e a diferença na vida das pessoas”. Ela destacou também que o ensino do arquiteto e urbanista é feito em uma perspectiva que se afasta do mercado e que isso precisa ser aprimorado. “Nossa educação é feita para sermos um grande arquiteto, como se outras faces da arquitetura fossem menos importante, como a arquitetura social ou o servidor público”.

 

A mediadora, arquiteta e urbanista Andréa dos Santos, salientou que as oficinas que estão sendo promovidas “costuram a nossa formação de uma forma muito propositiva”, o que deve favorecer para a construção de um relatório para auxiliar o entendimento da arquitetura e do urbanismo pelas pessoas que vivem nas cidades.