Qual o valor do Arquiteto e Urbanista? Quais as principais dificuldades enfrentadas no exercício da atividade profissional? Quais as perspectivas do futuro da profissão? As perguntas foram feitas em setembro deste ano durante as cinco oficinas preparatórias ao Seminário Nacional “O futuro da Profissão do Arquiteto e Urbanista” e foram relembradas nesta sexta-feira (18/11), durante a primeira plenária do dia no 40º ENSA, pela arquiteta Patricia Moreira Moura. A profissional apresentou um trabalho que, segundo ela, não pretende responder ou delimitar caminhos para o futuro da profissão, mas que vai possibilitar vislumbrar tendências baseado no que foi discutido.

 

A arquiteta apresentou dados sobre a distribuição de Arquitetos e Urbanistas no Rio Grande do Sul e um levantamento das principais atividades técnicas registradas (RRT) no CAU/RS neste ano. Também apontou os resultados de duas pesquisas realizadas. Uma com Arquitetos e Urbanistas no período de realização das oficinas e outra sobre a atuação profissional e a percepção da sociedade do CAU de 2015. “Não mudamos nada na realidade se não soubermos de onde estamos partindo e para onde queremos ir”, afirmou. “Precisamos ampliar o debate”.

 

Segundo dados extraídos do IGEO, o número total de Arquitetos e Urbanistas no Brasil é mais de 142,3 mil. No RS são cerca de 13 mil e na capital gaúcha mais de 5,3 mil, sendo a região Metropolitana e o centro do Estado as regiões que mais concentram arquitetos. O número de profissionais formados no RS é semelhante ao número de estudantes. O Estado possui cerca de 14 mil estudantes e 42 cursos entre os registrados e em implantação. No Brasil há cerca de 525 cursos.

 

A pesquisa realizada pelo CAU/BR-Datafolha em 2015 ouviu mais de 2,4 mil pessoas em todo o país sobre as percepções da sociedade sobre Arquitetura e Urbanismo. Segundo a pesquisa, 54% da população economicamente ativa já construiu ou reformou imóvel residencial ou comercial. Desse grupo, 85,40% fizeram o serviço por conta própria ou com pedreiros e mestres de obras, amigos e parentes. Apenas 14,60% contratou arquitetos ou engenheiros. A região Sul é a que apresentou o maior percentual de utilização de profissionais tecnicamente habilitados: 25,90%, contra 74,10% que não se valeram de seus serviços.

 

A pesquisa quantitativa, feita em 177 municípios das cinco regiões brasileiras, foi seguida de outra qualitativa, em seis capitais do país (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belém e Goiânia), reunindo 12 grupos de oito pessoas cada. Nessas entrevistas, a maioria das pessoas que utilizou apenas serviços de mestres de obras ou pedreiros mostrou-se arrependida por motivos como falta de planejamento, custos acima do orçamento original e descumprimento de prazos. Outro dado destacado por Patrícia é o de que a parcela dos que já contrataram os serviços  é de apenas 7%. Cerca de 70% das pessoas que compõem a população economicamente ativa, no entanto, afirmam que contratariam os serviços de um arquiteto e urbanista para construções ou reformas.

 

Carolina Jardine

Carolina Jardine

 

A debatedora convidada Andrea Lúcia Vilella Arruda, presidente da ABEA, levou um olhar otimista e, ao mesmo tempo, de alento para responder algumas das perguntas que rondam a categoria. Professora com atuação em Montes Claros (MG), ela defendeu que a realidade nas universidades da região tem sido modificada e que atualmente os cursos estão mais voltados ao perfil urbano, com estágios que exigem também atuação em obras e não só em escritórios. “Tenho um outro olhar sobre o ensino”, disse. Ela destacou que a formação do profissional é muito parecida no mundo todo, porque a carta da UNESCO/UIA é seguida no Brasil. “Lá diz para formarmos profissionais generalistas e nós precisamos conversar sobre qual profissional queremos formar, mas acho que podemos ser mais otimistas, isso é importante”.

 

O coordenador da Comissão de Ensino e Formação do CAU/BR, José Roberto Geraldine Júnior, defendeu a formação de profissionais generalistas. “Mais do que concordar com a carta da UIA, que reafirma a questão da formação generalista, tenho total convicção de que estamos no caminho correto”, disparou. “A formação brasileira é bastante unificada e posso dizer que isso é respeitado no mundo”.

 

O arquiteto salientou, ainda, as dificuldades enfrentadas pelos estudantes para o financiamento dos estudos em tempos de crise no financiamento estudantil. “O país não tem condições de oferecer ensino público para todos”. Ele lembou também que na próxima semana será assinado um acordo com o governo francês no âmbito de troca de acordos comerciais, um deles para a Arquitetura e Urbanismo. “A intenção é acessar outros mercados”.