“É preciso investir em formação política. Sem ela, a tragédia está anunciada”. A frase é do analista político e diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, que participou de painel na manhã deste sábado (2/12), no 41º ENSA. Segundo ele, há um grave cenário de déficit na formação cívica no Brasil que deve ser superado com investimento. “Mas, para que isso aconteça, temos que passar por uma mudança cultural, dos dirigentes dos partidos e movimentos. Enquanto se fizer coligações só para ganhar espaço no horário eleitoral e fundo partidário, esse quadro não se altera”. Para ele, é preciso de reflexão forte nessa perspectiva na tentativa que o governo atue por uma agenda de Estado e não pela agenda do mercado, como se tem hoje no Brasil. O risco, alerta ele, é entregar o país nas mãos de pessoas “sem compromisso com o interesse coletivo”.
De acordo com ele, quem não conhece como funcionam as instituições não pode ser considerado um cidadão. “Ao não saber da importância do Estado e suas instituições, as pessoas desqualificam a política. Isso é uma tragédia porque não há uma solução para os impasses coletivos sem a apolítica”. A falta de informação, acredita, é um fator essencial para que as pessoas sirvam como massa de manobra por causas regidas pelo capital. Além da Reforma da Previdência, ele pediu pressão contra a Emenda Constitucional 95, que prevê limite aos gastos públicos, ação que terá efeito devastador para a sociedade.

O analista fez uma avaliação dos motivos que levaram ao golpe que derrubou a presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, além da animosidade que se criou com o sistema bancário, ela estendeu esse modelo para áreas de energia, mineração, gás e petróleo e comunicações, colocando contra si algumas parcelas do setor produtivo. “A presidente ficou com a imagem de alguém anticapitalista, antimercado. O satanás em forma de gente”, ironizou. Por outro lado, mencionou inúmeros avanços que acabaram não sendo publicizados como deveria, como a Lei de Acesso à Informação e a ampliação de poderes de instituições fiscalizatórias.

No pós-golpe, o país vive um momento crítico, com inúmeros cortes em direitos dos cidadãos, Reforma Trabalhista, teto aos gastos públicos, e uma Reforma Previdenciária em vias de ser votada.