Elas são maioria na sociedade e 65% dos profissionais em exercício na Arquitetura e Urbanismo brasileira, mas ainda têm um longo caminho a ser trilhado quando o assunto é representatividade no planejamento urbano e no debate dos rumos das cidades brasileiras. Debater a importância de ter a mulher mais presente como agente de transformação nas cidades foi a tônica central do seminário “Arquitetura: substantivo feminino”, promovido nesta terça-feira (6/3) pelo CAU/RJ em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
O debate reuniu mulheres atuantes em diferentes áreas da profissão. Secretária geral da FNA, a arquiteta e urbanista gaúcha Fernanda Lanzarin, participou da plenária salientando a importância do debate sobre a mulher na arquitetura e seu papel nas decisões da cidade. “O seminário mostra a urgência de se trazer essa temática a tona e dar mais importância a ela. Por que só as mulheres sabem o que as mulheres passam na profissão e nas cidades”.

Segundo ela, não se pode esquecer dos dilemas relacionados à segurança das grandes cidades e as restrições de uso de alguns espaços impostas, principalmente , às mulhares. “Um lugar seguro para as mulhares é seguro para qualquer um. Normalmente, se pensa em soluções para a população em geral, mas é preciso ter consciência que as cidades ainda não funcionam igual para homens e mulheres”. Reforçando a importância de estruturas mais inclusivas, lembrou que essa é uma posição importante de ser tomadas em diferentes esferas de poder, seja no âmbito da administração pública, seja nas entidades de classe e sindicais.

“A FNA tem essa preocupação com causas inclusivas e preza pela paridade de gênero dentro da sua composição”, reforçou a sindicalista.

A presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia, Gilcinéa Barbosa da Conceição, também participou do debate e pontuou a baixa representatividade de mulheres dentro do próprio CAU. “O CAU está presente em 26 estados e no Distrito Federal. Dos 27 conselheiros, apenas sete são mulheres. O número de conselheiras presidentes de CAU/UFs também é pequeno, apenas seis. Se pegarmos o número de conselheiros em todo o país, teremos cerca de 320. Um terço é de conselheiras titulares”, criticou.

A advogada Margarida Pressburger alertou para a falta de representatividade das mulheres não é um problema limita à arquitetura e urbanismo, nem só ao Brasil. “Em termos de número, a situação da OAB não difere do CAU. Sou filha de um homem, irmã de um homem e mãe de um homem. Quero que eles cresçam, mas lado a lado da mulher. Queremos igualdade salarial. Não é por beleza, pelo tamanho do decote ou pelo cruzamento de pernas. É pelo valor do nosso trabalho”, defendeu.

Presente ao debate, a vereadora Marielle Franco, presidente da Comissão da Mulher na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, fez uma provocação para que os debates sobre gênero não se limitem apenas ao mês de março.  “A perspectiva de gênero deve ser discutida, mas não apenas quando é comemorado do Dia Internacional da Mulher. Além de discutir, precisamos avançar nas pautas das mulheres”, ressaltou.

E deu seguimento em um discurso firme e enérgico: “Debater o papel das mulheres é fundamental. Mas a política também é esse lugar da identidade de gênero. Um lugar onde a mulher precisa estar na centralidade, um cenário condizente com 2018”. Segundo a vereadora, a frase que ganhou o movimento feminista e as redes sociais ‘O lugar da mulher é onde ela quiser’ não pode ser só uma retórica e que é essencial que se conquiste voz nos espaços de decisão, como o debate de planos diretores e questões tributárias.

A arquiteta e urbanista e fundadora da start up Malalai, Priscila Gama, também compartilhou sua experiência aos as profissionais presentes ao debate. “Falta muita ação. Ainda estamos presas no discurso. Eventos como esse fomentam mais ação. O poder de resolver as cidades ainda está na mão dos arquitetos.”

Luciana/ CAU-RJ