Camila Silva/Assessoria de Imprensa – FNA

Adriana propõe transformar edifícios abandonados em moradias sociais [Foto: Jocelaine Luz]

A mistura social, que consiste em combinar vários perfis de moradores e estabelecimentos em uma região, é um dos caminhos apontados pela estudante de Arquitetura e Urbanismo Adriana Sabadi, de 26 anos, para solucionar o déficit habitacional e a falta de segurança no Centro de Porto Alegre (RS). Em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), intitulado Morar no Centro/Viver na Cidade: Habitação mistura social e funcional, a futura arquiteta e urbanista identificou 49 edificações total ou parcialmente vazias na região central da capital gaúcha, onde está concentrado o comércio.

O ponto de partida foi a avenida Júlio de Castilhos, local onde Adriana morou por muitos anos. “Eu convivi com muitos prédios vazios e muitos moradores de rua, esse paradoxo sempre me chamou a atenção”, conta. A inquietação motivou a estudante a aprofundar a busca e a pesquisar sobre estes espaços, conforme mapeamento da imagem abaixo.

Levantamento da área de estudo com as edificações [Imagem: Adriana Sabadi]

O trabalho, que inclui fundamentação teórica, identificação das edificações e construção de painéis, foi concluído pela estudante em um semestre. Utilizando, principalmente, o mapeamento visual, a jovem, em parceria com o arquiteto e urbanista e mestre em planejamento urbano regional João Farias Rovati, orientador da pesquisa, realizou caminhadas pela região em uma rota que foi escolhida de acordo com suas vivências como moradora. Além disso, utilizou dados do projeto Viva o Centro, atualmente desativado, mas que contém um considerável banco de dados sobre edificações vazias. O estudo foi construído a partir desse cruzamento de informações.

Ocupando os espaços ociosos

Mais do que um simples mapeamento de edificações que não estão sendo utilizadas, a pesquisa sugere que esses prédios sejam ocupados a partir do desenvolvimento de um plano de moradia social. “Apesar de o Centro ser considerado uma região caótica, existem muitos espaços vazios e, o pior, esses espaços são muito próximos”, lamenta. A estudante propôs em seu projeto a transformação desses edifícios em moradias sociais.

Em um prazo de 30 anos, a estudante sugere a criação e estruturação de uma empresa pública habitacional em Porto Alegre, que seria responsável pela gestão desses espaços, incluindo a aplicação e cobrança do aluguel social – estipulado de acordo com a renda de quem se inscrever no projeto. O programa não é pensando apenas para pessoas de baixa renda, mas também para quem trabalha no Centro da cidade.

Linha do tempo mostra evolução do projeto em 30 anos [Imagem: Adriana Sabadi]

Pela proposta, em 15 anos, quatro importantes edificações do Centro poderiam ser reformuladas, entre elas o Edifício Rocco, localizado na rua Riachuelo, considerado pela estudante um marco do descaso com o patrimônio arquitetônico de Porto Alegre.

 

Projeção do Edifício Rocco composto por por moradias, café e uma horta comunitária [Imagem: Adriana Sabadi]

O projeto da formanda sugere uma contraposição ao Minha Casa, Minha Vida – programa habitacional do Governo Federal. Isso porque, aponta Adriana, as habitações do programa, em geral, contemplam moradias em bairros distantes do Centro. “Geralmente, são construídas em regiões de vulnerabilidade social, o que acarreta no abandono das construções por parte dos moradores”, avalia.

Transformação da região

A “mistura funcional” , que consiste na diversificação do perfil de moradores e também do uso dos espaços da região, é um dos resultados positivos que podem ser obtidos com a execução do projeto de Adriana. Ou seja, além do comércio, os espaços devem ser ocupados por moradias. Para ela, essa mistura já ocorre em Porto Alegre, mas apenas em algumas áreas consideradas “mais importantes” que o Centro. A zona de pesquisa da estudante é composta por pouca diversidade e apresenta maior esvaziamento. “As pessoas dizem que o Centro é perigoso, mas eu não concordo pois durante o dia é um lugar muito movimentado”, aponta. De acordo com a estudante, esta percepção ocorre justamente pela falta de habitações nesses espaços, o que amplia a sensação de insegurança para quem transita pelo Centro em determinados horários e dias da semana.

Mapa mostra uma proposta de mobilidade urbana [Imagem: Adriana]

Além da questão da segurança pública, esta mistura traria benefícios para a mobilidade da região que, atualmente, sofre com o acumulo de veículos e a sobreposição de transportes coletivos. “As pessoas, ao morarem mais perto do Centro da cidade, realizam mais trajetos a pé, pois o acesso é mais fácil.”. Outro ponto destacado por ela é a facilidade de acesso aos espaços culturais da cidade, como, por exemplo, museus. Em Porto Alegre, a maioria está concentrado na região Central. Entre as sugestões do projeto, está a implantação de um metrô na avenida Borges de Medeiros, conforme mostra a projeção abaixo.

Atualmente morando em São Paulo (SP), Adriana percebeu que a cidade apresenta as mesmas deficiências no que diz respeito à estruturação da área central. Além da análise individual do Centro de Porto Alegre, o objetivo da pesquisa também é fazer um comparativo entre as capitais do país.