Uma casa de 95 metros quadrados em Nantes, na França, pode se tornar um marco na construção civil e revolucionar os investimentos em habitação social. Resultado da colaboração entre arquitetos, engenheiros e pesquisadores de robótica, em um projeto capitaneado pela Universidade de Nantes, a moradia foi construída com a técnica de impressão tridimensional Inaugurada em março, recebeu em julho seus primeiros moradores.

Primeira habitação social construída em 3D no mundo, o imóvel custou 195 mil euros (cerca de R$ 900 mil), 20% a menos que uma casa equivalente pelo processo convencional, de acordo com seus idealizadores. Batizada de Yhnova, a casa com quatro quartos, sala, cozinha e dois banheiros foi “impressa” em 54 horas, graças a um processo de construção automático “camada por camada”, realizado por uma impressora-robô que segue a trajetória traçada em um modelo digital 3D. “Futuramente, poderemos diminuir (o tempo de impressão) para 33 horas”, disse Benoît Furet, pesquisador da Universidade de Nantes e líder do projeto, ao jornal Le Parisien.

Os contornos da casa ficaram a cargo da empresa de arquitetura TICA, de Nantes. Para que a moradia se inserisse no espaço disponível, sem necessidade de remover as árvores existentes no local, os arquitetos a desenharam em forma de Y, com paredes curvas – o esquema inusitado também favorece a ventilação e o controle da umidade. A tecnologia de impressão por trás da obra se chama BatiPrint 3D e produz paredes triplas: dirigido por dois operadores, um robô industrial articulado, com um braço de quatro metros de comprimento, deposita duas camadas de espuma expansiva de poliuretano, que funcionam como molde para uma terceira camada interna de cimento e também garantem isolamento térmico.

Segundo os responsáveis pela façanha, a impressão 3D oferece um enorme potencial para a construção de moradias sociais, com mais rapidez, redução de barulho, do consumo de energia e de custos na obra. “Em um pequeno terreno, poderemos ter um processo industrial que faça casas de formatos diferentes. No futuro, pode-se desenvolver esse tipo de moradia com mais de um pavimento”, disse Luc Stephan, diretor de inovação da Nantes Métropole Habitat, agência imobiliária social que apoiou o projeto, à agência AFP.

Para arquiteto Charles Coiffier, da TICA, esse novo conceito construtivo abre um campo de possibilidades aos profissionais da área, permitindo ainda a “contextualização” do trabalho de arquitetura. “Para esta casa, em particular, realizamos um projeto que respeita o contexto vegetal existente. Ele foi implantado em um espaço arborizado muito restrito, mas foi executado sem que derrubasse uma única árvore”, destaca o arquiteto no site do projeto.

O projeto Ihnova é fruto de um trabalho interdisciplinar de equipes de pesquisa de diversas instituições, como a Universidade de Nantes, o Instituto de Pesquisa em Engenharia Civil e Mecânica e o Centro Nacional de Pesquisa Científica. A iniciativa também teve o apoio de parceiros públicos e privados, como a prefeitura de Nantes, a Nantes Métropole Habitat, o grupo de materiais de construção Lafarge Holcim e a construtora Bouygues Construction, entre outros. Um vídeo sobre a obra pode ser visto no site do projeto, no link http://batiprint3d.fr/

Fontes: Universidade de Nantes, Nantes Métropole Habitat, BatiPrint 3D.

Fotos: Reproduções (/batiprint3d.fr)