A Federação Nacional dos Arquitetos (FNA), na figura de sua vice-presidente, Eleonora Mascia, assinou compromisso para preservar a obra de João Filgueiras Lima, o Lelé, um dos maiores arquitetos brasileiros. O documento foi assinado durante o V Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (Enanparq), em Salvador (BA), após um dia inteiro de debates na Jornada Lelé: Pela preservação do Legado de João Filgueiras Lima, o Lelé, este mês, em Salvador (BA).
Também assinaram o termo o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (ANPARQ), o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), o Instituto João Filgueiras Lima (IJLF), o Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS Brasil), a Seção Brasileira do Comitê Internacional para Documentação e Conservação de Edifícios, Sítios e Bairros do Movimento Moderno (DOCOMOMO Brasil), a Casa de Osvaldo Cruz / Fiocruz, a Associação Escola da Cidade, Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (FAUFBA), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Segundo Eleonora Mascia, para a FNA, é muito importante apoiar a “Jornada pela preservação do legado de João Filgueiras Lima Lelé”, pois o pioneirismo de sua arquitetura em argamassa armada e pré-moldados reflete um pensamento sobre a cidade inclusiva e a democratização do acesso a espaços e equipamentos públicos. “Destacam-se os projetos para escolas, creches, hospitais, prédios públicos, habitação e prédios comerciais”, exemplifica.
O compromisso assinado pela FNA tem como base cinco ações imediatas que visam apoio de outras entidades e órgãos públicos para salvaguardar e/ou recuperar o legado de Lelé, angariar fundos para criação – ora em curso – do Instituto João Filgueiras Lima (IJFL) e sensibilizar o poder público para conservação de imóveis federais em condições de desuso, conforme abaixo:
1.Preservar a obra de Lelé no âmbito do projeto, da fábrica e da obra construída;
2.Solicitar ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e aos órgãos municipais e estaduais adoções de medidas urgentes para preservar os elementos mais importantes da obra de Lelé;
3.Solicitar ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/BR) que capitaneie angariação de fundos para apoio à criação do Instituto João Filgueiras Lima (IJFL);
4.Garantir a preservação das formas originais da Fábrica de Equipamentos Comunitários (FAEC), da Companhia de Renovação Urbana (Renurb), da Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Desal) e do Centro de Tecnologia Sarah Kubitschek;
5.Articular junto à Desal, à Secretaria de Educação de Salvador e à Universidade Federal da Bahia convênios e parcerias para recuperar pavilhões de aulas construídos por Lelé na Faculdade de Arquitetura, na Escola de Belas Artes e no Campus de São Lázaro, bem como salvaguardar, pelo menos, um exemplar da “Escola Transitória” e das “Creches Mais”, construídas pela Faec, na década de 80 em Salvador.
Conheça João Filgueiras Lima, o Lelé
João da Gama Filgueiras Lima, o Lelé (1932-2014), foi um dos mais importantes arquitetos brasileiros do século 20. Ele participou de momentos históricos da arquitetura brasileira, tais como a construção de Brasília, inovando a pesquisa tecnológica da construção, especialmente no campo da pré-fabricação. A partir da industrialização em escala da argamassa armada no país, o arquiteto ajudou a consolidar políticas de urbanização de favelas e bairros populares. Foi desenvolvedor do Centro de Tecnologia da Rede Sarah Kubitschek (CTRS), núcleo de pesquisa, desenvolvimento e execução de construção pré-fabricada de destaque internacional, especialmente na área hospitalar.
No entanto, apesar da importância, a salvaguarda da obra e do legado de Lelé sofre ameaça desde a morte do arquiteto, em 2014, seja pela descaracterização, ou desaparecimento precoce da sua memória, conforme exemplos que seguem:
1. Demolição de escolas e creches construídas pela Fábrica de Equipamentos Comunitários (FAEC) na segunda metade da década de 1980;
2. Proposta de desmontagem da sede da Prefeitura Municipal de Salvador no Centro Histórico da cidade (Palácio Thomé de Souza):
3. Desmontagem, substituição ou descaracterização de, pelo menos, doze passarelas de pedestres presentes no trajeto do Metrô de Salvador;
4. Sucateamento e iminente desativação do Centro de Tecnologia da Rede Sarah Kubitschek (CTRS)
5. Abandono e consequente arruinamento de parte importante dos prédios sede de Tribunais de Contas da União construídos a partir dos anos 1990 dentro da estrutura do CTRS, dentre os quais as sedes dos TCUs de Salvador, Maceió e Cuiabá.