O futuro do trabalho resguarda uma nova realidade para as cidades e para os arquitetos e urbanistas. Segundo o diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Martin Georg Hahn, as pessoas vão atuar de onde estiverem e haverá alteração até de carga horária. Com essa cultura, que ganha força por meio de novas tecnologias, a rotina dos arquitetos e urbanistas terá que se reinventar na forma de repensar a própria organização das cidades. Contudo, admite que “ainda é muito cedo para saber como vão se manifestar esses fatores”, mas acredita que, por exigir ação presencial, a arquitetura pode ter uma adaptação mais lenta do que outros tipos de atividade intelectual. Ele espera que uma sinalização mais clara sobre esse futuro venha de relatório da Comissão sobre o Futuro do Trabalho, que será divulgado pela OIT em janeiro de 2019. A ideia é que o documento sirva de base para tomada de decisões na próxima conferência da organização em junho. Participando de mesa de debate mediada pelo ex-presidente da FNA Newton Burmeister durante o no 42º Encontro Nacional de Sindicatos de Arquitetos e urbanistas (ENSA), ele debateu o mercado de trabalho, buscando exatamente trocar ideias com os arquitetos e urbanistas.
Hahn sugeriu que os profissionais façam valer em seu trabalho os regramentos do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 8 e 11. “Não podemos perder de vista de que quem está na construção está sujeito à atividade de risco e essa deveria ser uma preocupação tanto das construtoras quanto dos arquitetos”. O diretor da OIT ainda pontuou a importância de que o trabalho adquira cada vez mais um conceito alinhado com o “emprego verde”, de forma a contribuir com menor uso de recursos naturais. E citou que essas mudanças precisam estar alinhadas à formação nas faculdades. Martin Georg Hahn alertou para o alto número de pessoas saindo de universidades e chegando ao mercado sem possibilidade de absorção.
O presidente da FNA, Cicero Alvarez, propôs união para formatar um pleito conjunto e, em parceria com a OIT, atuar pela reflexão do trabalho nesses novos tempos. A provocação foi aceita pelo diretor da OIT que sugeriu a ampliação do debate a outros setores. Cícero pretende que os arquitetos levem um plano para os futuros prefeitos ou governantes a ser homologado na UIA 2020, no Rio de Janeiro.
A ex-presidente da FNA Valeska Peres Pinto acredita que a sociedade vive um processo de disruptura perigoso com a substituição das pessoas por máquinas. “Ainda bem que emoção humana ainda não virou algorítimos”, ironizou. E continuou: “Em menos de dez anos, o futuro da profissão estará revolucionado, e a reforma trabalhista vai parecer fichinha perto das novas condições em que as pessoas irão trabalhar.”
Durante o painel, o presidente do Sindarq-ES e secretário de Relações de Trabalho da FNA, José Carlos Neves Loureiro, fez uma análise com base nos dados do Censo 2012 e do Anuário de 2018 do CAU/BR. Pontuou que a relação entre o número de arquiteto e de RRTs pagas se mantém com pouca alteração desde 2012. O censo indicou que, em 2012, 32,66% da categoria atuava como autônomo; 17,95%, como empregado do setor privado, e 13,75%, no setor público. E mostrou que, na época, os principais obstáculos eram: a baixa valorização dos profissionais pela sociedade, a dificuldade de colocação no mercado e a baixa remuneração. “O sonho dos arquitetos e urbanistas é ter oportunidade de trabalhar e receber o preço justo pelo valor do seu trabalho”. No setor público, exemplificou, há uma grande dicotomia ao se contratar serviços de arquitetura e urbanismo pagar por foça da Lei 4950A/66 o salário mínimo a profissionais sem honrar com essa responsabilidade perante a seus funcionários. “O setor público não pagar o salário mínimo profissional não é ilegal, mas é imoral”
Loureiro citou a importância das escolas de Arquitetura e Urbanismo voltarem-se para novas atividades como assistência técnica, habitação de interesse social e urbanização de favelas como também, ensinarem os estudantes sobre formação de preço dos serviços de arquitetura e urbanismo incluindo nesta formação a orientação sobre o uso das tabelas de honorários aprovadas pelas entidades da categoria.
Confira vídeo sobre o que a OIT planeja para o futuro do trabalho.
Foto: Carolina Jardine