Camila Silva/ Imprensa FNA

Uma pesquisa realizada pelo CAU/BR e pelo Instituto Datafolha revelou que a taxa de contração de um arquiteto entre pessoas de classe A é de 55,30%. Apontou também que a maioria dos 2.500 entrevistados considera o trabalho do arquiteto e urbanista acessível apenas às classes mais altas. Visando mudar esse estereótipo da profissão, escritórios de arquitetura se dedicam exclusivamente às classes C e D, construindo um modelo de negócio que permite a democratização do acesso ao mercado arquitetônico.

“O seu sonho cabe no seu bolso”. Assim, o arquiteto e urbanista Márcio Barreto define o trabalho realizado pelo seu escritório Arquitetura do Barreto, localizado em Salvador, Bahia. Há três anos, o profissional se dedica apenas ao desenvolvimento de projetos de reforma e construção para a classe C. Criar o próprio negócio sempre foi o objetivo do arquiteto, entretanto, os modelos que dominavam o mercado arquitetônico baiano não lhe interessavam. “Durante a graduação estudei uma matéria sobre os leads de cada ambiente e, na minha cabeça, quem mais precisava desse serviço era quem menos podia consumi-lo”, recorda.

A observação realizada durante a graduação e a imersão do arquiteto nos conjuntos habitacionais do projeto Minha Casa, Minha Vida motivaram Barreto a dedicar sua carreira ao desenvolvimento de projetos para clientes da classe C. De acordo com o arquiteto, esse público é tão exigente quanto os de mais, consome os mesmos produtos e tem os mesmos anseios. Porém, um dos principais problemas refere-se ao tamanho dos imóveis adquiridos por esse grupo.

Como exemplo, Barreto cita uma sala de estar. “Muitas vezes os clientes adquirem uma televisão, entretanto, o cômodo não possui metragem o suficiente para que o sofá fique posicionado de frente para a TV, falta compatibilidade entre os produtos adquiridos e o espaço”, exemplifica. Reorganizar os móveis de forma harmônica e auxiliar os clientes na compra dos itens está entre as principais demandas do escritório.

A consultoria é o primeiro passado no desenvolvido dos projetos do escritório. Em duas horas, o arquiteto realizada uma entrevista com o cliente, cadastro do ambiente e, em seguida, o profissional desenvolve um projeto 3D dentro do conceito de cocriação. Essa etapa do projeto custa 300 reais, o cliente recebe por e-mail o resultado. De acordo com Barreto, nessa etapa o proprietário constata os benefícios de ter um espaço planejado.

Banheiro projetado pelo arquiteto para a mostra arquitetônica Morar mais por Menos Foto: Reprodução Instagram Arquitetura do Barreto

No ano de 2018, o escritório desenvolveu 36 projetos e o modelo de negócio chamou a atenção de profissionais e clientes de outros estados. Por esse motivo, Barreto criou a Parceria em rede, projeto que conecta profissionais que atuem com o mesmo público do arquiteto em diversos locais do país. No site do escritório, um mapa interativo divulga, por até três meses, o contato e endereço desses profissionais. 

Para ele, o interesse dos arquitetos e urbanistas por esse nicho demostra uma mudança mercadológica. Lembra que, no início do escritório, houve críticas por profissionais da área, que alegaram a desvalorização da profissão. “O meu escritório atende pessoas que não eram atendidas. Então, não estou desvalorizando a profissão ou retirando clientes de ninguém, e sim ampliando o mercado”, afirma. Segundo Barreto, o desenvolvimento de projetos para esse público ensinou ao profissional a pensar soluções com materiais de baixo custo, exercitando ainda mais a criatividade.

Inova Urbis já realizou mais de 500 projetos

Assim como o escritório de Barreto, a Inova Urbis desenvolve projetos que visem democratizar o mercado arquitetônico. Localizada inicialmente na Rocinha, maior favela do Brasil, a empresa foi criada em 2013 com o intuito de ser o primeiro escritório de arquitetura popular do país.

Para construir edificações seguras, bonitas e baratas na comunidade, os arquitetos realizaram um estudo em 178 casas na Rocinhaentre 2013 e 2014. Desenvolvido com o auxílio de pesquisadores e professores universitários, o levantamento constatou que a maioria dos entrevistados desejava continuar residindo na comunidade, em habitações construídas de forma precária, mas, passíveis de melhorias.

Foto; Arquivo Pessoal

Devido à violência urbana, o escritório na Rocinha foi fechado. Porém, o desejo de seguir construindo projetos populares seguiu vivo. Em 2016, os arquitetos e urbanistas desembarcaram na capital paulista para seguir desenvolvendo a iniciativa. Paraisópolis foi o local escolhido para a nova sede.

De acordo com o arquiteto e urbanista e sócio-fundador Alban Drouet, os gargalos existentes para que os moradores melhorem suas casas com uma reforma não são apenas financeiros. Ele aponta que os habitantes precisam se conscientizar dos benefícios que a construção de projeto arquitetônico traz e de como as casas podem ser transformadas. Desde a fundação, o escritório já desenvolveu mais de 500 projetos.