Mais do que conhecer as comunidades, é preciso ouvir e aprender com elas. Assim defendeu o engenheiro e estudioso das desigualdades sociais Eduardo Moreira durante a palestra “Como viabilizar economicamente a Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (Athis)”. O evento, que levou mais de 250 pessoas na sexta-feira (05/04) ao Centro Cultural Capela Santa Maria, em Curitiba (Paraná), foi uma promoção da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) e CAU/PR.

Por cerca de duas horas, Moreira transitou sobre temas que passaram por inovações, conjuntura econômica do Brasil, distribuição de renda e geração igualitária de riqueza. Com uma linguagem didática e recheada de exemplos e números, Moreira falou sobre economia e segregação social e apontou para a necessidade de empoderamento dos meios de produção como agentes de promoção de riqueza frente à especulação financeira.

Segundo dados apresentados pelo palestrante, em 2017, 82% da riqueza produzida no mundo foi para os mais ricos, e 0% para os 50% mais pobres. No Brasil, explicou ele, as diferenças se agravam por um sistema tributário onde o povo paga a conta do desenvolvimento e do enriquecimento de uma minoria. E indicou que analisar os dados disponibilizados pelo próprio governo é fundamental para entender a desigualdade social, como a falta de acesso à moradia. Para entender de perto as mazelas das finanças nacionais, o também professor de educação financeira planejou uma incursão em cinco ambientes com realidades econômicas distintas: o Movimento dos Trabalhadores Rural Sem Terra (MST); presídios; favelas; tribos indígenas e cidades do nordeste brasileiro com carência de recursos hídricos.

Para ele, é necessário estar aberto a aprender. “No MST eu aprendi mais de economia do que na vida inteira”, confidenciou. Lição que pode ser relacionada aos profissionais de arquitetura e urbanismo que trabalham com Athis, diz ele. “Vocês conhecem técnicas e as melhores tecnologias. Entretanto, são os moradores que conhecem as suas demandas e necessidades”, afirmou Moreira para uma plateia composta majoritariamente por arquitetos e urbanistas e estudantes. Além disso, para o palestrante, é preciso fomentar a Athis no público alvo, construindo assim uma demanda. “É necessário vir de dentro para fora”.

No encerramento do evento, foi realizada roda de conversa com as autoridades presentes e o palestrante. O presidente da FNA, Cicero Alvarez, ressaltou a organização em conjunto com o CAU/PR que tornou possível a realização do evento e analisou o cenário conturbado da política nacional. “Para que haja uma nova organização é preciso haver, primeiro, desagregação, para que possamos olhar para novas possibilidades e ressurgir em novo patamar, como a Athis”, ressaltou. Para Luciano Guimarães, presidente do CAU/BR, é uma honra que os profissionais de arquitetura e urbanismo possam contribuir por meio da arquitetura social para diminuição da desigualdade do país.

A conselheira do CAU Rafaela Weigert representou a presidente do CAU/PR, Margareth Menezes, e lembrou que o evento é resultado de ações da autarquia para estímulo à Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social e na busca de novas alternativas profissionais, uma vez que apenas 7% da população informa já ter contratado um arquiteto e urbanista.  “Desde setembro do ano passado, estamos investindo em cursos e palestras com temas como marca pessoal, prática profissional e sustentabilidade na construção e em busca de caminhos para atuar em arquitetura social. Buscamos mais participação no CAU Paraná e essa é a nossa meta deste ano”. Também participaram do debate o representante do CEAU do CAU/BR e presidente da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (Abea), João Carlos Correia, o vice-presidente da UIA, Roberto Simon, a vice-presidente da FNA, Eleonora Lisboa Mascia, e o secretário de Educação, Cultura e Comunicação Sindical da FNA, Ormy Hütner Jr.

 

Roda de conversa com as autoridades presentes e o palestrante. Foto: Carolina Jardine