O urbanismo é o centro de um quebra-cabeça que integra diversos dilemas das cidades e pode, de forma integrada, ser o caminho para uma nova sociedade. A ideia foi defendida pelo arquiteto e urbanista João Whitaker, ex-secretário de habitação de São Paulo (SP) na gestão de Fernando Haddad, que palestrou na reunião Ampliada da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), que se encerrou no último domingo (7/4) em Curitiba (PR). Representando o BR Cidades, o especialista defendeu que temas como gênero e acesso à cultura sejam aliados no debate sobre saneamento, sustentabilidade e mobilidade. “Vivemos um momento de reinvenção sobre como colocar o urbano para a sociedade. E essa reinvenção deve estar na pauta das eleições de 2020”, sinalizou.

Whitaker mencionou diversos elementos que interferem diretamente nessa composição. Entre eles o fato de o crescimento econômico – pautado na lógica capitalista – gerar crescimento urbano e consequências perversas às cidades, como a lógica individualista. Desta forma, lembrou que, cada vez mais, as cidades médias brasileiras estão reproduzindo a lógica segregadora, que beneficia os grandes empresários e gera problemas para a população em componentes fundamentais, como no transporte público por exemplo. O palestrante também citou problemas na implementação do programa Minha Casa Minha Vida. “As prefeituras construíram os condomínios na regiões periféricas, e, com isso, você reproduz elementos que geram estresse urbano “, criticou.

A ex-presidente da FNA Valeska Peres Pinto alertou que, no entanto, não se pode esperar ganhos imediatos com este movimento. “A cidade vai continuar sendo construída. O que temos que construir são políticas urbanas”. Nesse trabalho, pontuou a importância de analisar aspectos diversos, entre os quais a mobilidade. “Mobilidade é tempo, e tempo é uma coisa valiosa, que não é devolvido”, disse ela, sugerindo o debate sobre a influência do novos meios de transporte como bicicletas, patinetes e aplicativos na locomoção das pessoas. A arquiteta e urbanista ainda relacionou o tema com a violência urbana e a centralização das cidades. A mesa coordenada pelo diretor da FNA Guilherme Carpintero também contou com a participação do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas no Estado do Paraná (Sindarq/PR), Milton Gonçalves.

Carpintero afirmou que a categoria “precisa descer do pedestal” e fez referência à palestra do engenheiro e economista Eduardo Moreira, promovida pela FNA e pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU/PR) na última sexta-feira (5/4), também em Curitiba. Referendou a necessidade de escutar mais as comunidades que, apesar das dificuldades, estão vivendo, há décadas, sem as condições ideais de moradia. Salientou que os movimentos sindicais precisam sair das plenárias e aproximar-se da população como forma de embasá-las para exigir seus direitos. “Temos que fazer esse movimento ganhar corpo. O problema de saúde pública está na cidade, o da educação está na cidade, o da violência está na cidade”, destacou, defendendo a realização de um pacto federativo que delimite o papel das cidades dentro do desenvolvimento do país.

A vice-presidente da FNA, Eleonora Mascia, pontuou a importância de fomentar discussões locais sobre os temas que afligem a sociedade. Segundo ela, antes de tentar interagir junto à candidatos à prefeitura e a cargos do poder público, há um grande trabalho a ser feito em âmbito local e entre as entidades próprias da profissão de Arquiteto e Urbanista.

Foto: Carolina Jardine