Em meados dos anos 1990, Nadir Moreira da Silva, 58, estudava para se tornar arquiteta e urbanista. Do Centro Universitário Geraldo Di Biase (UGB/FERP, em Barra do Piraí, no Rio de Janeiro) para sua casa em Volta Redonda (RJ), ela descia do ônibus para caminhar um pedaço do percurso e carregava consigo, no punho, um estilete. Essa era a forma que tinha para se proteger de possíveis perigos que uma mulher que caminha na rua está suscetível. Para contribuir com a mudança dessa alarmante realidade, Nadir, conselheira Vice-Presidente no Conselho de Arquitetura e Urbanismo do RJ (CAU/RJ) e coordenadora da Comissão de Equidade de Gênero, baseou sua atuação profissional no empoderamento feminino e na tomada de espaços de decisão.

A profissional ajudou a construir a autarquia desde a primeira gestão, em 2012. “Imagine uma mulher que saiu do nada para outra cidade, que começou a fazer seu nome e entrou para um Conselho”, lembra, referindo-se a 1992, período em que se formou na faculdade, logo depois separou-se do marido e foi para Angra dos Reis construir sua carreira ao lado dos dois filhos, Joana e Ronaldo. Além do CAU/RJ, ela também integrou as diretorias da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Angra dos Reis (Assear), do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas no Estado do Rio de Janeiro (SARJ) e do Instituto dos Arquitetos e Urbanistas de Angra dos Reis (IAU/AR).

À época da criação do CAU/RJ, como primeira mulher e única pessoa negra a compor o Conselho, Nadir afirma que sofreu dificuldades para ocupar o posto e, com luta, fazer sua voz ser ouvida. “Incomodei muita gente com a minha postura. Não temos oportunidade de formação para reconhecer as nossas possibilidades de liderança como os homens têm”, pontua. Nesse sentido, em 2018, como forma de estabelecer um canal de diálogo sobre essas questões, a arquiteta e urbanista ajudou a construir a pioneira Comissão Temporária de Equidade de Gênero do CAU/RJ. “Nas nossas rodas de conversa, as mulheres começam a conversar e conseguem se expressar, porque percebem que sua fala está sendo respeitada”, sinaliza, destacando que esses momentos da comissão são compostos de pessoas de várias classes sociais, o que confere um resultado homogêneo.

Nos eventos já realizados, há discussões sobre como melhorar a vida das mulheres nas cidades por meio de investimento em iluminação pública, combate à violência contra a mulher e criação de creches integrais, pauta que lhe toca de maneira diferente. “Minha filha era recém-nascida quando comecei a estudar”, lembra. Por isso, para ela, é fundamental que mães consigam deixar seus filhos sob a tutela do Estado enquanto trabalham e estudam. “Temos que convergir escola, trabalho e moradia. Elas precisam ser próximas, porque evita perigo e facilita a vida das mulheres”, opina. A idéia, afirma Nadir, é lançar um projeto para que todos os CAUs do Brasil tenham a mesma comissão, criando unidade nas propostas pelas cidades de todo o país.

O que elas querem das cidades

– Investimentos em creches e escolas que tenham turno integral
– Investimento em iluminação pública
– Planejamento urbano visando que as fontes de renda sejam mais próximas da moradia