A Federação Nacional dos Arquitetos – FNA – se soma às demais organizações populares e à Central Única dos Trabalhadores – CUT –, cuja nota reproduzimos abaixo, no repúdio a qualquer celebração ao aniversário do golpe militar que instaurou uma ditadura de mais de duas décadas em nosso país. Naquele período sombrio de nossa história, partidos foram cassados, ativistas políticos foram perseguidos, presos, torturados e mortos, o ensino público foi desmontado – os cursos de Arquitetura e Urbanismo foram especialmente vigiados e reprimidos, com centenas de professores excluídos. Nossas cidades receberam fluxos migratórios sem precedentes, colocando milhões de pessoas em condição de miséria absoluta. O país chegou à década de 1980 aos frangalhos, com inflação galopante e socialmente mais desigual.

Desde o golpe de 2016, setores das Forças Armadas – incluindo o atual presidente da República e seu vice-presidente – manifestam abertamente o desejo de implementar novo regime militar, a serviço do grande capital externo, com a finalidade de impor à força ao povo brasileiro a retirada de direitos. Para justificar a apologia à tortura e à barbárie, apoiam-se em narrativas mentirosas, amplamente refutadas por fontes documentais e pela própria memória dos brasileiros, de que o golpe militar teria evitado uma “ameaça comunista”, e que teria sido um período de melhoria da qualidade de vida para nosso povo. A FNA, amparada na vivência de seus quadros – muitos perseguidos pela ditadura –, no estudo sério de nossa história, e na realidade de nossas cidades até os dias atuais, refuta veementemente tal tese revisionista e repudia com igual rigor toda e qualquer tentativa de retorno ao regime militar. Estaremos ao lado do povo brasileiro contra todo ataque à democracia, em qualquer instância.

Diretoria Executiva
Federação Nacional dos Arquitetos

31 de março: nada a comemorar

A Direção da CUT reafirma sua posição histórica de condenar o golpe que instaurou no país no dia 31 de março de 1964 uma ditadura sanguinária, que interrompeu o sonho de milhões de brasileiros que lutavam por direitos democráticos fundamentais.

Dois anos antes, os trabalhadores rurais haviam conquistado ao direito de se organizarem em sindicatos e de serem protegidos por uma legislação trabalhista, como os trabalhadores urbanos. Foram necessárias décadas de luta para que se livrassem das formas mais abusivas de exploração do trabalho e de subordinação ao mando dos proprietários rurais. A abolição da escravatura não os livrara desse jugo. 

No início dos anos sessenta, os rurais juntaram-se aos trabalhadores urbanos para reivindicar reformas estruturais na sociedade com o objetivo de ampliar as fronteiras da cidadania e fortalecer a democracia. Foram reprimidos brutalmente com o golpe de 31 de março: sindicatos foram invadidos, lideranças sindicais assassinadas, presas e torturadas.

Um regime de terror se instaurou na sociedade, a repressão atingiu e calou aqueles que ousavam resistir ou se opor.

A classe trabalhadora foi submetida a uma das mais abusivas formas de exploração do trabalho. O arrocho brutal dos salários foi um dos principais pilares do crescimento econômico dos anos seguintes, acompanhado de um número recorde de acidentes de trabalho.

A pobreza e a miséria se ampliaram, demonstrando a face mais perversa de uma tremenda concentração de renda. Este foi o objetivo real do golpe militar. Não foi salvar a democracia, mas acabar com ela para permitir o “milagre” dos anos setenta, imposto com sangue e lágrimas.

Não esqueceremos esses anos de chumbo. Nem das lutas silenciosas que brotaram no chão de fábrica, nos bairros, nas comunidades eclesiais de base e nos sindicatos urbanos e rurais, nas universidades e outros espaços de resistência que colocaram novamente a sociedade brasileira em movimento para se livrar da ditadura e reconquistar a democracia.

Repudiamos, pois, a narrativa falaciosa de que o golpe militar foi um movimento que veio para salvar a democracia. Quando a democracia está sob ameaça, precisamos juntar forças e resistir. Agora, mais do que nunca, devemos salvar vidas, superar a crise econômica e política que se aprofunda, sem abrir mão da defesa incondicional da democracia, que assegure liberdade e direitos fundamentais.

Sergio Nobre, Presidente CUT Nacional