A preservação do patrimônio brasileiro depende de cada agente da sociedade, numa organização que vá além do simples somatório de ações individuais interligadas, e tal organização deve voltar-se à luta pela memória de nosso povo. Usando a clássica metáfora do trabalho de formigas que, apesar de pequenas, constroem sua sociedade, o secretário de Organização e Formação Sindical da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), Danilo Matoso, conclamou profissionais e toda a população a dar início à construção de um “formigueiro”, em um coletivo pela cultura nacional.
“A formiga não vive sem formigueiro”, provocou, fazendo referência ao recém-criado Observatório do Patrimônio. O coletivo integra as entidades ligadas ao Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro e colegiados locais em 23 estados. Coordenador do Fórum, o arquiteto e urbanista Nivaldo Andrade convidou os participantes da live a somarem-se ao movimento. Segundo ele, os ataques do governo ao Iphan visam pôr fim aos obstáculos que o instituto representa para alguns setores do governo e da sociedade. “Esse governo não entende do governar para todos. Precisamos romper a bolha. Quando a população entender que patrimônio não é uma coisa velha, mas que é algo que nos caracteriza como identidade, teremos uma saída”, ponderou o presidente do IAB.
As convocações foram feitas durante a Live#8 – “Patrimônio Cultural – A luta pela memória hoje” promovida pela FNA na noite desta terça-feira (18/8), como parte da agenda da Semana do Patrimônio. Segundo Matoso, que é coordenador do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Distrito Federal, só unidos será possível enfrentar os consecutivos ataques à cultura. “É preciso de esforço social humano. Patrimônio é construção social permanente. É algo vivo e dinâmico e não morto, elitista.” O dirigente foi contundente: “O que está e jogo é nossa memória”.
O debate foi mediado pela diretora financeira da FNA, Juliana Betemps, profissional que tem carreira lastreada na preservação de patrimônio histórico no interior do Rio Grande do Sul. Além de conduzir um debate profundo e instigante, a arquiteta e urbanista fez um relato sobre o dia a dia de quem trabalha com restauro, abordando desde as dificuldades de início da carreira até a falta de recursos e incentivo público. Atuando em Carlos Barbosa (RS), ela dedica-se a projetos relacionados a edificações que contam a história da imigração italiana e alemã na região. A ação em projeto de educação patrimonial, contou ela, vem sendo uma de suas áreas de ação, uma vez que vê a formação da sociedade como essencial na promoção da preservação.
Nessa mesma linha, a professora da Unisinos Ana Meira citou que a maior conscientização sobre a sustentabilidade da construção civil e seu impacto para o planeta pode ajudar a estimular a preservação do patrimônio. “Conservar é também economizar recursos”, completou Matoso.
A professora da Unisinos ainda ponderou que arquitetos e urbanistas e outros especialistas precisam estar abertos a ouvir os argumentos de outros grupos sobre o que é patrimônio, seus valores e o que julgam relevantes. “A gente tem que ser consciente da diversidade, não somos os únicos detentores da denominação do que é patrimônio. Temos que ouvir as pessoas”, sugeriu. Afinal, completou Andrade, o especialista não preserva o patrimônio para si próprio, mas para a sociedade que tem uma relação de memória e identidade com o bem. “O Arquiteto tem que sair da materialidade, e ter ciência de que o valor imaterial é importante. Só preservamos as coisas porque elas representam algo para a sociedade.”
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