O fruto não cai longe do pé. O ditado se aplica perfeitamente a Manuela Carrara Verzegnassi, ativista e integrante da União Nacional por Moradia Popular da Bahia (UNMP-BA). Embora somente o período pós-adolescência e alguns anos de faculdade tenham despertado nela o interesse pelas causas sociais, foi a mãe, Marli Carrara, que a empurrou para esse ‘mundo’.  Aos 12, 13 anos tinha que acompanhar Marli nas assembleias do movimento, local onde não tinha com quem compartilhar suas ideias de menina adolescente. Além disso, as reuniões ocorriam aos domingos pela manhã e às vezes entravam pela tarde. Ou seja, Manuela perdia praticamente o dia todo acompanhando a mãe na função.

A percepção sobre a importância do trabalho da mãe começou a se criar quando ela frequentava a Faculdade de Comunicação. A proximidade do campus com a sede da UNMP facilitava os encontros com a mãe, em meio a almoços e idas ao espaço do movimento, em Salvador. “Depois de dois anos de faculdade, comecei a ver as coisas com outros olhos, já participava de algumas reuniões e até já ajudava minha mãe em algumas coisas quando ela pedia”, recorda Manuela.

O despertar ocorreu naturalmente, sem a interferência da mãe. Tanto que partiu também para a Faculdade de Assistência Social. “Hoje posso dizer que as lutas sempre estiveram dentro de mim. Sou filha adotiva, mulher negra. Mas nunca passei por nenhuma experiência em termos de preconceito, mesmo meus pais nunca tendo me criado dentro de uma bolha. Mas isso não me impediu de passar a ser solidária com a luta dos outros”, reflete Manuela.  Mesmo sem um passado de dificuldades, começou a se engajar no movimento, ouvindo a comunidade e participando ativamente das atividades da UNMP. Foi assim que ela acabou se envolvendo na luta do movimento negro, de mulheres e por moradia. E recorda que nem uma conversa com a mãe, ouviu a seguinte frase: “a moradia é a porta de entrada de todos os direitos”, recado que nunca mais saiu de sua cabeça.

Hoje, aos 36 anos, ela é responsável pela comunicação social da UNMP na Bahia, com uma atuação que lhe permite estar nas ruas – algo impossível nesta pandemia – e em contato direto com as comunidades com as quais atua via redes sociais. E repete o que sua mãe fez com ela. A pequena Catarina, de pouco mais de um ano, já fez sua estreia no movimento, dando os primeiros passos em uma luta já abraçada pela mãe e pela avó.

Foto: UNMP-BA