Toda cidade precisa de uma ação coletiva para ser reinventada e adequada às exigências do século XXI, especialmente em um mundo pós-pandemia: esta é a defesa do livro “Reinvenção da Cidade – Interação, Equidade, Planeta”, do arquiteto e urbanista Sérgio Magalhães. A obra discute alguns dos principais desafios dos espaços urbanos brasileiros na busca de cidades menos predatórias e desiguais, e mais democráticas, inclusivas e sustentáveis. Ao longo do texto, o autor joga luz sobre o caso do Rio de Janeiro, como cidade metropolitana icônica, que concentra atributos, contrastes, carências e potencialidades formadoras da identidade nacional. O livro será lançado no dia 18 de março (sexta-feira), a partir das 19h, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon. A Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) será representada durante o evento pela Secretária Geral da entidade, Cárin D’Ornellas.
Um dos maiores nomes do urbanismo contemporâneo brasileiro, Sérgio Magalhães foi presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), entre 2012 e 2017, e do 27o Congresso Mundial de Arquitetos (UIA2021RIO). O arquiteto, que ocupou o cargo de Secretário Municipal de Habitação do Rio de Janeiro (1993-2000), foi o responsável pela concepção da Política Habitacional da cidade, que inclui o Favela-Bairro, programa implementado em 155 favelas do Rio de Janeiro. Vencedor de premiações nacionais e internacionais, incluindo cinco prêmios anuais de projeto concedidos pelo IAB, o Prêmio América de Arquitectura e o prêmio espanhol FAD 2012 em reconhecimento ao Favela-Bairro, Sérgio é professor no Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da FAU/UFRJ.
Em seu quinto livro, que também será lançado em inglês, o autor expõe uma visão urbanística acerca das consequências sociais, políticas e econômicas associadas ao pouco cuidado com as nossas cidades, que ocupam o posto de maior patrimônio material nacional e maior artefato da cultura. A obra inova ao defender o co-protagonismo das cidades como ferramenta de desenvolvimento do país, opondo-se à hegemonia do debate econômico que vem caracterizando as últimas décadas.
Sérgio ressalta que a pandemia do coronavírus evidenciou a interrelação entre economia, política, cultura, clima, planeta e espaço urbano, sem subalternidades, e que as cidades precisam ser tratadas à luz desta dimensão estratégica. – O livro pretende ajudar a colocar na pauta política e na demanda da sociedade a compreensão de que não haverá desenvolvimento do país sem a qualificação das cidades e sem a universalização dos serviços públicos urbanos, sendo condições essenciais para um futuro melhor. Desenvolvimento nacional e desenvolvimento urbano são interdependentes – sustenta o autor, que prossegue. – Por muito tempo, nós temos abandonado as nossas cidades, mas precisamos reconhecer que elas são o lugar da educação, da saúde, do trabalho, do conhecimento, da inovação, e que, nelas, vivem 85% dos brasileiros.
O arquiteto constrói seu novo livro a partir de três conceitos estruturadores de uma cidade à altura das exigências do século XXI: a interação, a equidade e a sustentabilidade. O primeiro, a interação, é no sentido de valorização das trocas sociais, de compreensão da diversidade e da antissegregação. O segundo, a equidade, se dá por meio da universalização dos serviços públicos com qualidade e do atendimento a todos os estratos sociais. Já o terceiro diz respeito ao planeta, no que concerne à relação indissociável entre a vida humana, a natureza e as condições climáticas.
Além disso, deixando de ser um estudo meramente crítico, ainda que indispensável, o livro elenca proposições urbanísticas capazes de auxiliar a busca pela implementação de programas em acordo com os três conceitos base. – A palavra “reinvenção” é claramente forte, mas poderá ser apropriada como sinal mobilizador para uma mudança indispensável. Precisamos olhar para o nosso ambiente de vida, as potencialidades das cidades e o tema urbano como pauta política urgente – destaca Sérgio.
O caminho é o da esperança: esta é uma defesa do sociólogo e filósofo francês Edgar Morin, expressa em relação à possibilidade de as forças do bem saírem vitoriosas no pós-pandemia. No livro, Sérgio Magalhães a utiliza para convencer o leitor de que esta é uma boa alternativa.
O papel fundamental do Rio De Janeiro para o país
Como estudioso apaixonado e profissional dedicado às nuances arquitetônicas, urbanísticas, naturais, históricas, culturais e socioeconômicas do Rio de Janeiro, Sérgio Magalhães escolheu a capital carioca como a grande protagonista de seu novo livro. Isso porque, para o autor, essa cidade metropolitana evoca o que há de mais desafiador e, ao mesmo tempo, de mais inspirador para uma completa reinvenção, cumprindo um papel de referência para o Brasil.
Entre os problemas do Rio evidenciados ao longo da obra, o urbanista ressalta graves erros urbanísticos, como, por exemplo, o abandono e a redução do papel do Centro histórico e a ocupação de áreas cada vez mais afastadas. Em relação aos possíveis caminhos de enfrentamento, o autor propõe o debate sobre um novo desenho institucional para a cidade metropolitana, à altura de sua importância e representatividade para o país. O livro traz, ao final, a Carta do Rio, documento resultante dos debates promovidos ao longo do 27o Congresso Mundial de Arquitetos, que teve a cidade como sede em 2021.