Realizada anualmente, a Conferência de Arquitetura do Instituto Americano de Arquitetos (AIA, na sigla em inglês) é o maior fórum do setor nos Estados Unidos. Após um hiato de três décadas, o evento retornou este ano a Nova York, onde reuniu profissionais mais de 80 países de 21 a 23 de junho, no Javits Center, para mostrar como arquitetos, designers e empresas estão fazendo a diferença em cidades de todo o mundo. Sob o tema central Blueprint for Better Cities (Projetos para Cidades Melhores), a conferência foi marcada por discussões de combate ao desperdício na construção, avalia o presidente da União Internacional dos Arquitetos (UIA), Roberto Simon, que participou do evento.
“Sem dúvida nenhuma, o que na minha impressão pesou mais nos debates foram as ações voltadas ao desperdício zero”, afirma Simon. Entre essas iniciativas, ele destaca o projeto Zero Waste Challenge (Desafio Desperdício Zero), liderado pelo AIA na cidade de Nova York, com o apoio da Durst Organization, gigante do setor imobiliário. De maio a outubro deste ano, o desafio convida empresas de todos os portes a reduzir sua produção de resíduos e aumentar as ações de reciclagem. Nessa empreitada, as participantes contam com o auxílio de uma consultoria especializada, a ThinkZero LLC, para desenvolver um plano de gestão de resíduos e conduzir avaliações.
Complementam a iniciativa ações como a exposição Projetando Resíduos: Estratégias para uma Cidade com Lixo Zero, aberta até 1º de setembro de 2018 no Center for Architecture. “A mostra é baseada nas Diretrizes de Design Zero de Resíduos (ZWDG, na sigla em inglês), lançadas no final do ano passado pelo AIA de Nova York, que abordam o papel crucial que o projeto de arquitetura desempenha na meta ambiciosa de Nova York, delineada no OneNYC (plano de sustentabilidade anunciado pelo prefeito de Nova York, Bill de Blasio, em 2015), de enviar lixo zero para aterros até 2030”, diz o presidente da UIA.
A conferência do AIA também teve foi marcada por debates sobre criação de acesso, oportunidades e ferramentas tecnológicas avançadas. “Naturalmente, estiveram em pauta o mercado de trabalho, a educação continuada e a preocupação com cidades projetadas para pessoas”, relata Simon. Entre as tendências sinalizadas pela exposição de fornecedores do setor de construção civil, o arquiteto destaca as tecnologias de realidade aumentada (RA) e realidade virtual (RV). Ao mesclar elementos digitais e do mundo real, esses recursos já vêm impactando a arquitetura, alterando a forma de visualização de projetos com experiências imersivas. “As experiências de RV mais avançadas até proporcionam liberdade de movimento – os usuários podem se mover em um ambiente digital e ouvir sons. Além disso, controladores manuais especiais podem ser usados para melhorar as experiências de RV”, destaca Simon.
Desafios da profissão
Durante o evento do AIA, os desafios da profissão estiveram presentes nas discussões entre representantes das entidades do setor de vários países. Para o presidente da UIA, o Brasil tem um dos sistemas de gerenciamento da atividade profissional mais desenvolvidos da comunidade de arquitetura e urbanismo no mundo. “Apesar de demonstrarmos nossos resultados e o forte interesse pelos passos que já demos até aqui – e pelos números que nos permitem entender mais e mais nossa profissão em nosso país –, sabemos que somente com cruzamentos e interpolação desses dados a tomada de decisão e a regulação da profissão irão dar um salto rumo ao futuro”, afirma.
Nesse sentido, a reunião entre representantes da Região 3 da UIA (Américas) possibilitou apresentar os novos projetos que estão sendo estruturados no Brasil. “A partir do caminho já percorrido, atingiremos a integração e a efetiva cooperação internacional necessária: big data, gamificação e MarTech, dentre outros, permitirão potencializar a cooperação e integração dos arquitetos e urbanistas de nosso continente. E alcance global”, diz Simon.
Outro saldo importante da conferência em Nova York, segundo o arquiteto, foi a reunião do Fórum Internacional de Presidentes, formado por lideranças de associações e conselhos de arquitetura e urbanismo de vários países. “Pela primeira vez, oportunizou uma participação efetiva nossa e das diversas organizações presentes, pois foi estruturado em mesas de debates sobre temas relacionados à questões globais de relevância para a humanidade em decorrência de nossa atividade profissional, discussões sobre energia e carbono, diversidade, equidade e inclusão, bem como sobre projeto e saúde”, afirma.
Foto no alto da página: Javits Center, em Nova York (Divulgação/Javitz Center)
Foto ao centro: Roberto Simon (Divulgação/AIA)