A concepção de projetos arquitetônicos mais humanos que privilegiem o coletivo e garantam aproveitamento diferenciado de áreas comuns deve ganhar espaço nas pranchetas de arquitetos e urbanistas brasileiros. Esse pensar “com alma” as edificações e as próprias cidades foi a tônica dos debates desta terça-feira (11/09), durante o Projeto Saergs Na Estrada, em Bento Gonçalves (RS). O evento integra circuito pelo Interior do Rio Grande do Sul promovido pelo Sindicato dos Arquitetos no Estado do RS (Saergs) com patrocínio do CAU/RS.
As inovações que estão por vir foram pontuadas pelo arquiteto e urbanista Maurício Santos, que, ao lado do time da Hype Studio, assina alguns dos mais inovadores projetos arquitetônicos do Estado. Entre eles, está um empreendimento que oferece apartamentos tipo studio e duplex altamente funcionais e que deve ser lançado neste mês de outubro em Porto Alegre. O empreendimento está baseado em um conceito de integração, privilegiando áreas de convívio e praças. Além de menos vagas para carros e mais espaço para bicicletas, o projeto é visto como tendência em diferentes regiões do mundo e marca o ingresso dos arquitetos da Hype no ramo de incorporação. A nova empresa leva o nome de Lugares com Alma e incorpora o empreendimento em parceria com a Famcorp.
Um dos aliados nessa nova fase do pensar os espaços de moradia e convívio é a tecnologia. Segundo Santos, a automação de processos em arquitetura e urbanismo é uma das tendências que deve facilitar a realização de projetos e otimizar o dia a dia dos profissionais. Entre as novas ferramentas que devem ganhar os estúdios nos próximos anos estão softwares de programação, uso de impressoras 3D para desenvolvimento de projetos e equipamentos de realidade virtual que permitem aos profissionais e até aos clientes andar dentro do projeto de forma virtual. “O uso destas tecnologias no escritório ainda ocorre em caráter experimental, mas, em breve, vão estar presentes no nosso dia-a-dia e no de outros escritórios”, salientou.
Durante o encontro com lideranças e profissionais da Serra Gaúcha, Santos destacou a importância do arquiteto como o coordenador de todas as disciplinas de projeto, citando o exemplo do novo edifício da SAP em São Leopoldo, onde o cliente seguiu seu padrão internacional de contratação. O novo edifício, com investimento previsto de R$ 120 milhões, está sendo projetado pela Hype Studio em parceria com o escritório franco-brasileiro Triptyque Architecture. Santos ainda apresentou detalhes da concepção do Novo Beira-Rio, um projeto que carrega a essência inovadora da Hype. “Nosso conceito é fazer arquitetura com alma, porque sempre oferecemos algo além a nossos clientes, independente do porte”, salientou.
Oficinas orientam profissionais da Serra
O projeto Saergs na Estrada também levou oficinas orientativas aos profissionais da região da Serra. A arquiteta e urbanista Paola Maia falou sobre a atuação do escritório AH! Arquitetura Humana, de Porto Alegre, em projetos de habitação de interesse social. Ela frisou que a ação aconteceu de maneira engajada e que é um dos focos de atuação da equipe, formada também pelas arquitetas Karla Moroso e Taiane Beduschi. “Esses projetos nos mostram que somos arquitetos que queremos cumprir nosso papel social, o que não significa trabalhar de graça. De outro lado, há milhares de pessoas que precisam desse serviço”, salientou.
O contato com as comunidades, explicou Paola, é facilitado pela relação com o Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM). Entre os projetos pontuados está o Assentamento Vinte de Novembro, no Quarto Distrito de Porto Alegre, com os projetos CVMV Entidades, com a CAIXA, e Morar Sustentável, realizado em parceria com o Saergs, com patrocínio do CAU. Acompanhando as palestras, a presidente do Saergs, Maria Teresa Souza, pontuou a importância de políticas públicas que permitam manter os projetos de assistência técnica. “Neste ano em que a Lei de Assistência Técnica completa dez anos, é preciso debater formas de implementação de projetos e aporte de recursos por meio de políticas públicas municipais e estaduais, uma vez que não há recursos do governo federal alocados para tal”, pontuou em um debate inflamado sobre a relevância de ver as cidades como organismos vivos de inclusão social.
Em sua palestra, a contadora Jane Fragozo respondeu às principais dúvidas com relação à formalização da atuação profissional. Falou sobre a composição de empresas e as vantagens que vêm com a organização dos escritórios de arquitetura em pessoas jurídicas. “É uma decisão que deve levar em conta quanto se deixa de conquistar oportunidades por não estar formalizado”, alertou, pontuando a relevância de assumir a linha de frente quanto ao protagonismo na participação de licitações e concorrências. Jane ainda tratou das possibilidades de formatação contábil dos escritórios (Empresário Individual, Eireli e sociedade limitada) e dos regimes de tributação que podem ser escolhidos pelos arquitetos. “É importante contratar um bom contador, que é o profissional que vai fornecer a orientação adequada. Será o parceiro para ajudar na avaliação dos registros do passado e projetar o futuro”, salientou Jane.
As oficinas ainda contaram com apresentação da jornalista Carolina Jardine, que apresentou estratégias para estreitar a comunicação com os clientes e fortalecer a imagem dos profissionais. Detalhou a importância de definir os rumos de cada projeto e, com base nos preceitos do escritório, traçar um plano de comunicação tanto com a mídia quanto nas redes sociais.
Foto: Carolina Jardine