Vitorya Paulo/Imprensa FNA
De 2015 até 2060, espera-se que o uso de recursos naturais cresça 110%, de acordo com o relatório “Panorama Ambiental Global 2019”, divulgado pela União das Nações Unidas (ONU), no dia 12 de março. O dado evidencia a urgência da discussão dos temas de sustentabilidade e ecologia na lógica de consumo do mundo, principalmente num ano em que tragédias como a de Brumadinho (Minas Gerais) ameaçam a saúde das bacias hidrográficas do Brasil. No Dia Mundial da Água, marcado nessa sexta-feira (22/3), surgem questões que envolvem arquitetos e urbanistas em prol da conservação de um dos recursos naturais mais importantes para a sobrevivência humana.
Não só a categoria, mas todos os profissionais e setores da sociedade devem estar engajados na luta de preservação da água, defende Liza Maria Souza de Andrade, doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília (UNB) e professora na instituição. Sua tese abordou a conexão dos padrões espaciais dos ecossistemas das cidades, construindo um método com enfoque transdisciplinar para o processo de desenho urbano sensível à água. “O planejamento urbano é multidisciplinar”, afirma. Nesse sentido, Liza ressalta a necessidade de haver conexão e consenso entre os órgãos do sistema institucional. “Às vezes, o plano diretor e o plano de saneamento da cidade não dialogam entre si”, critica.
Essas peças, que Liza chama de “arranjos institucionais”, são fundamentais para o desenvolvimento de uma política nacional de preservação não só da água, como de todos os recursos naturais do planeta. “O saneamento do Brasil deveria ser discutido como uma questão de tecnologia social”, pontua, chamando atenção para a necessidade de uma política integradora e o fomento da “pedagogia da água”, em que noções sobre o assunto seriam discutidas a fundo nas escolas. “A complexidade é necessária”, diz. Como possíveis soluções, a arquiteta e urbanista afirma que a gestão da água deve ser compartilhada e discutida com a sociedade, empresariado e o governo. “Temos que propor soluções técnicas e promover a justiça social”.
Arquiteta desde 2008 na Caixa Econômica Federal, Sandra Quinto afirma que o principal papel dos profissionais da área é induzir as empresas a construir projetos melhores. “Sempre buscamos desenvolver soluções para habitações mais sustentáveis”, pontua sobre o seu trabalho na Gerência Nacional de Sustentabilidade e Responsabilidade Socioambiental (Gersa) da Caixa. Atualmente, Sandra faz parte do projeto Pegada Hídrica de Edifícios, que consiste na elaboração de metodologia para identificar uma melhor percepção da relação da água e dos seus processos construtivos, contribuindo para melhoria da gestão do recurso no mercado de construção civil.
“A ferramenta poderá servir como um instrumento de indução e incentivo às práticas de sustentabilidade nas habitações financiadas, tendo como público alvo os projetistas de novos edifícios e de processo de reforma de edifícios, subsidiando a elaboração de projetos”, pontua. A pesquisa, que está sendo desenvolvida em parceria com o Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (Sinducon/SP), também poderá ser utilizada para avaliar o consumo de água dos edifícios administrativos da Caixa. A arquiteta e urbanista ressalta que projetos mais sustentáveis não significam mais gastos. “Depende da qualidade. Nem sempre (as alternativas sustentáveis) encarecem o projeto”, conclui.
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