Nascida na geração millennials (entre a década de 1980 a 1996), Beatriz Vicentin, 24 anos, lembra do dia em que viu seu nome, em 2014, nos aprovados do vestibular para o curso de Arquitetura e Urbanismo, na Universidade de Brasília. “Foi o início de toda a trajetória que mudaria minha vida”, recorda. Há um ano à frente da Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo (FeNEA) como diretora geral, ao lado de Francieli Francheschini Schallenberger, a estudante participa e organiza ações dentro das universidades e em conjunto com entidades como a Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU-BR), o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), entre outras. Segundo Beatriz, a atuação da FeNEA é fundamental para abrir espaço para o movimento estudantil nos debates profissionais da área. “Somos quem cutuca”, brinca.

A oportunidade de integrar a luta dos estudantes surgiu com a sua participação no projeto de extensão universitária Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo (EMAU), onde – com base no trabalho extensionista – Beatriz auxiliava no desenvolvimento de projetos voltados às comunidades com maior vulnerabilidade social. Um dos trabalhos que mais lhe marcou foi à construção de um parquinho para os alunos da Escola Bianka Lorena Capilé, localizada no núcleo urbano do assentamento São Miguel (Sadia III), na região metropolitana do Vale do Rio Cuiabá. Os estudantes, que não possuíam um local de lazer para frequentar, ganharam um espaço feito de materiais recicláveis junto com o apoio da comunidade. “A cidade é um direito de todos e esses projetos incentivam as pessoas a ocuparem os espaços públicos.”

Conforme ia envolvendo-se nos espaços sociopolíticos dentro da universidade, Beatriz foi percebendo que, apesar de um maior número feminino entre as acadêmicas de Arquitetura e Urbanismo, eram os homens que estavam sempre na linha de frente dos movimentos de luta. Essa falta de visibilidade era observada por ela principalmente nos debates dentro da instituição. “Quando os seminários eram sobre o papel e as dificuldades das mulheres na profissão, a mesa estava cheia delas. Agora, se fosse para discutir questões técnicas, como assentamentos urbanos e assistência técnica para a população mais vulnerável, só os homens tinham voz”, conta. A gestão da FeNEA ao lado de Franciele termina neste ano, mas Beatriz acredita que o papel da entidade ainda crescerá expansivamente a nível nacional, abrangendo todas as universidades e escolas de Arquitetura e Urbanismo do país. Entre as conquistas do último ano, a jovem dirigente cita o espaço adquirido pelo estudante de Arquitetura nos debates com outras entidades de nível nacional, os projetos articulados junto ao BR Cidades e o incentivo na criação do Colegiado de Entidades Estaduais de Arquitetura e Urbanismo (CEAU).

Trigêmea de Caroline e Mateus Vicentin – ela formada em Antropologia e ele acadêmico de Educação Física – Beatriz quer seguir nos movimentos políticos. A estudante, que recebe sua colação de grau em 2020, sonha em contribuir com o futuro da sua profissão. “Daqui 10 anos quero estar do outro lado da nossa história, quero estar conversando com os estudantes para que eles tragam suas questões e eu possa ajudar.”

O que elas querem das cidades

– Um Plano Diretor pensado especificamente para deixar as cidades mais seguras, prevenindo problemas antes mesmos deles serem criados;

– Mais iluminação nas ruas;

– Espaços públicos remanejados e sem o abandono do poder público;

– Recuperar um espaço que sempre foi por direito das mulheres.