O arquiteto e urbanista Alfredo Brillembourg, que está à frente do Urban-Think Tank (U-TT), escritório de design interdisciplinar localizado em Caracas, na Venezuela, foi o convidado do segundo dia da programação da Semana Aberta do UIARio2021 nesta terça-feira (23).. Com foco na inovação e na sustentabilidade em projetos para populações que vivem na informalidade, Brillembourg trouxe para a sua apresentação um pouco do que desenvolve em seu estúdio, alguns com participação no Brasil.

Em Caracas, com o apoio de líderes comunitários e moradores do bairro de San Agustín, o U-TT projetou o Metro Cable, um teleférico associado ao metrô, inspirado no modelo de Medellín, na Colômbia. Outro projeto de Brillembourg para a capital venezuelana foi o Vertical Gym, complexo esportivo e recreativo – feito com kits pré-fabricados – na favela de Chacao. Segundo o arquiteto, o equipamento contribuiu para reduzir os índices de criminalidade, promover estilos de vida saudáveis ​​e fortalecer o capital social”.  Como ele mesmo se define, é um arquiteto que desenha equipamentos urbanos que podem ser feitos em partes – pedaços de arquitetura que podem ser colocados em distintas formas. Um exemplo prático é o ginásio, onde uma área de 800 metros quadrados foi transformada em 4 mil metros quadrados, em meio a uma cidade marcada pela informalidade urbana e uma grande dificuldade com o contemporâneo. Ele conta que foi difícil ‘entrar’ com o projeto na favela levando em mãos uma proposta com diferentes tipos de conexões, por se tratar de uma cidade extremamente densa.

Na favela de Paraisópolis (SP), no assentamento chamado Grotão houve um deslizamento por causa da chuva. Sem infraestrutura e acessos, o local também se tornou perigoso pela grande quantidade de incêndios. Seu projeto começou com o objetivo de colocar um grande parque no local do assentamento, assim como um prédio sustentável para abrigar a prática de esportes, escola de música e dança. A experiência com o Ginásio Vertical de Caracas inspirou o projeto, que acabou não saindo do papel pela prefeitura de São Paulo. “A ideia não era começar apenas um edifício. Era o edifício, o jardim, a casa superior, a ponte de ligação, tudo funcionando como um todo”, destacou.

Outra iniciativa no Brasil foi a apresentação de trabalhos junto a distintas comunidades de São Paulo, uma iniciativa que rendeu um livro intitulado “Escritório de Ideias de Urbanização de Favelas’. A obra em breve estará disponível para acesso no site do U-TT. “O conteúdo traz como diagnosticar topografias e morfologias, como visualizar fatores sociais, como reverter a segregação e como consolidar a infraestrutura local”, pontuou o arquiteto.

O U-TT também tem desenvolvido uma série de inovações digitais para melhorar a participação social de moradores de comunidades pobres. “As cidades não são estáticas. Mudam constantemente a partir de trocas e interações”, diz. Além de Caracas, Brillembourg tem olhado para os desafios de outras grandes metrópoles como Mumbai, Nova York, Joanesburgo. “O mundo está interconectado e é preciso compreendê-lo ao máximo”.

Seu escritório ainda foi o responsável pela filmagem do premiado documentário Torre David, uma estrutura de 45 andares em Caracas negligenciada por mais de uma década que acabou se convertendo na residência improvisada de uma comunidade de mais de 800 famílias, transformando-se em uma “favela vertical organizada”. “Hoje temos ilhas de riqueza e guetos de pobreza no mundo todo. Precisamos quebrar isso. O arquiteto precisa expandir seu papel; talvez ele seja um pensador de sistemas, um designer estratégico”, comenta.